«(...) [C]omparei apenas os tempos de alguns dos campeões de sprint que correm as duas distâncias. E cheguei logo à conclusão que as coisas não são nada lineares.»
Veio-me há bocado à ideia, já não sei a que propósito, a seguinte interrogação: será que a velocidade da metade final dos 200 m em atletismo não é mais rápida que a dos 100 m? «Não será que o balanço ganho contrabalança a dificuldade do arranque?», pensei eu, que destas coisas não percebo nada.
Fui ver. Quer dizer, não fiz um estudo exaustivo, comparei apenas os tempos de alguns dos campeões de sprint que correm as duas distâncias. E cheguei logo à conclusão que as coisas não são nada lineares: para alguns, o tempo dos 200 m é mais que o dobro do tempo dos 100 m — por exemplo, para o recordista mundial de ambas as distâncias, Usain Bolt; mas há outros que correm alguma parte dos 200 m (não forçosamente a metade final, pensei eu depois) mais depressa que os 100 m, porque o seu tempo nos 200 m é menos que o dobro do seu tempo nos 100 m (ver as casas com fundo cor-de-rosa na tabela).
Agora, não se pode saber quem correu os 100 metros mais rápidos de sempre numa competição oficial (não a prova, mas a distância). Talvez haja 100 metros de uma prova de 200 m de Usain Bolt que ele tenha corrido mais depressa do que quando bateu o record do mundo dos 100 m em Berlim, em 2009. Até pode ser que alguns 100 metros da corrida de Yohan Blake em Bruxelas em 2011, quando alcançou a segunda melhor marca de sempre nos 200 m, tenham sido mais rápidos que os 100 m de Bolt em Berlim, quem sabe?
Adenda a 17.1.21:
J. J. Amarante teve a gentileza de me enviar um detalhadíssimo relatório biomecânico da final de 200 m do Campeonato Mundial de Atletismo de 2017, em Londres, elaborado por uma equipa de cientistas da Carnegie School of Sport para a Associação Internacional de Federações de Atletismo (que se pode descarregar aqui). Na página 9 deste relatório, comparam-se os tempos dos primeiros 100 metros com os tempos dos últimos 100 m e sete dos oito finalistas correm mais depressa a segunda metade da prova que a primeira. A minha hipótese de leigo não era, ao que parece, disparatada de todo.
N. E. – O anglicismo sprint está ainda por aportuguesar ou à espera de termo vernáculo que o substitua com adequação. Significa, na linguagem do atletismo e do ciclismo, «aumento de velocidade na parte terminal de uma corrida ou de cada etapa da corrida» e «corrida de velocidade em curta distância» (Infopédia).
Apontamento que o autor publicou no blogue Travessa do Fala-Só, em 16/01/2021.