Questionava-se Ricardo Araújo Pereira, numa conversa com Joana Marques, que decorreu no Fólio, a 18 de outubro, se seria possível usar a estrutura «ninguém não», na qual surgem juntas duas palavras negativas.

A estrutura é possível, mas é necessário verificar se o seu uso corresponde ao que se pretende verbalizar.

Assim, se o falante pretende negar um determinado estado de coisas, referindo que nenhuma pessoa o realiza, deverá usar apenas o pronome ninguém, como em «Ninguém defende esta posição.» O uso do advérbio não nesta frase levaria a que ela passasse a ter um valor afirmativo. Com efeito, a afirmação «Ninguém não defende esta posição» é uma afirmação equivalente a «Toda a gente defende esta posição».

Assim, o uso da estrutura «ninguém não» é equivalente ao uso de uma estrutura afirmativa.  Se o que se pretende é veicular é a ideia de que a situação de «defender esta posição» nunca se verifica, deverá utilizar-se apenas o pronome ninguém, como em «Ninguém defende esta posição.»

 Áudio disponível aqui:

[AUDIO: Carla Marques_Ninguém não]