Um destes dias, ao folhear a agenda do primeiro trimestre do LU.CA – Teatro Luís de Camões , em Lisboa, dei de caras com a exposição Grandes Dilemas, cuja pesquisa e curadoria são de Joana Rita Sousa, e em apenas duas pequenas páginas surpreendi os neologismos filocriatividade e perguntóloga.
A filocriatividade é uma atividade de filosofia para crianças e jovens que pretende levá-los a desenvolver o pensamento crítico e criativo. Segue um modelo que se define como de «oficinas» de filosofia e criatividade. Essas oficinas, adaptadas às idades dos participantes, começam com uma «provocação filosófica», que pode ser um jogo, um excerto de um texto, um livro, um vídeo ou uma pergunta, a partir dos quais, depois de estabelecidas algumas regras, se constrói o diálogo e a reflexão.
A palavra filocriatividade resulta da combinação entre o prefixo filo-, presente em filosofia, e criatividade. Porém, em filosofia, o elemento de composição filo- (do grego fílos, -ê, -on) exprime a noção de «amigo», e é -sofia (do grego sophía, -as), que exprime a noção de «sabedoria» ou «conhecimento». Ou seja, e literalmente, a filosofia é a amizade, o amor, ao saber, ao conhecimento. Como sufixo, damos com ele em palavras muito comuns, tais como anglófilo, francófilo ou lusófilo, por exemplo. Seguindo a estrutura semântica mais tradicional, poder-se-ia pensar que filocriatividade seria o amor à criatividade mas aqui filo- funciona apenas como uma redução de filosofia. Não é, porém, incomum, na criação de neologismos, que os termos sejam combinados de maneira diferente, e que se perca a etimologia originária.
Estas oficinas são dinamizadas por Joana Rita Sousa que se define como filósofa e perguntóloga, surgindo aqui o segundo neologismo. Perguntóloga resulta da combinação entre pergunt[a]- + o + -logo, que exprime a noção de «estudioso» ou «especialista» (como em politólogo, por exemplo). A perguntóloga será, pois, aquela que pensa as perguntas. Pesquisando no blogue da autora damos com o terceiro neologismo, outra palavra da mesma família, a perguntologia, que a mesma define como a «arte de fazer perguntas». Ela própria explica como cunhou o perguntólogo, por analogia com questionologist, fixado por Warren Berger, no livro The Book of Beautiful Questions. E define-o como a «pessoa que estuda e investiga as perguntas».
A filocriatividade poderá ter problemas de verosimilhança e de plausibilidade mas o perguntóloga e a perguntologia não, ainda que todos eles não pareçam ter curso para além das atividades da autora.