« (...) Sou só eu — ou esta mania de enfiar as expressões da língua numa lógica arrumadinha é muito redutora? (...)»
Vejamos a suposta lógica de quem acha que a expressão é erro: «beijinho» é diminutivo, logo não pode ser grande. Ainda agora encontrei este argumento num artigo publicado num jornal nacional.
Antes de mais, sem sair da lógica literalista que acha que um beijinho tem de ser um beijo pequeno, a verdade é que podemos ter beijinhos maiores do que outros e, por isso, uns podem ser grandes e outros pequenos — mesmo que todos (grandes e pequenos) sejam menores do um beijo, assim, sem diminutivo.
No entanto, a questão nem é essa… «Beijinho» é uma palavra que surgiu a partir do diminutivo de «beijo», mas — como é hábito das palavras (essas safadas) — ganhou um significado ligeiramente diferente: um beijinho tende a ser um beijo na face. No fundo, o beijinho é um tipo de beijo. E esse beijo na face pode ser pequeno, grande ou assim-assim. Até pode ser um beijo no ar, vejam lá bem.
Depois — e como é que o inventor deste erro não se lembrou disto? — o diminutivo em português também serve para imprimir uma conotação carinhosa (digamos assim) ao que estamos a dizer. A minha casinha pode ser uma casa a dar para o grandinha. Aliás, pela lógica de quem não gosta de «beijinhos grandes», «grandinha» ou «grandito» ou «grandinho» seriam palavras a raiar o absurdo. Ele tem um cantinho só dele lá em casa — e é bastante grande, esse cantinho… O meu filhinho está muito grande — cada vez maior!
Enfim. Sou só eu — ou esta mania de enfiar as expressões da língua numa lógica arrumadinha é muito redutora? Ainda por cima quando se trata de beijos, beijinhos e abraços?
Qualquer dia ainda me dizem que não posso usar a expressão «abraços», porque, no fundo, damos apenas um, no singular? E os cumprimentos, para quê dizer «sinceros»? Há assim tanto perigo de estarmos a mandar cumprimentos mentirosos?
Deixemo-nos destas tretinhas. Divirtam-se e… beijinhos grandes!
Artigo do blogue de Marco Neves, Certas Palavras