«(...) Através da literatura e de Os Lusíadas em particular, o professor tem fé de que os seus alunos compreendam que os heróis são aqueles que mostram, através de atitudes, pensamentos e ideologias, os valores da humanidade, do ser humano como forças condutoras. (...)»
Ser professor de Português é, na verdade, um privilégio, pois existe toda a abundância de se poder ensinar o património de uma língua, a quarta mais falada no mundo, com cerca de 260 milhões de falantes.
Trata-se da língua oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. É também um dos idiomas oficiais de Macau. Existem importantes comunidades falantes do português na América do Norte. As Nações Unidas estimam que, em 2050, sejamos 387 milhões a falar português.
Assim, o professor de Português assume a função do homem do leme» e deve tentar contagiar os alunos com esse orgulho e essa vontade de seguir em frente, essa força que irradia da literatura e, em particular, de Os Lusíadas.
Um professor, que tenha a sorte de iniciar o ensino de uma ou mais turmas no sétimo ano e consiga levá-las até ao nono, tem todo um percurso que, com mérito, poderá culminar, na minha perspetiva, com o estudo de Os Lusíadas, essa grandiosa obra humanista, que, apesar da sublimação do povo português, sublinha a importância da humildade e o menosprezo pela «glória de mandar», nas considerações do poeta.
Ora, o facto de se tratar de uma epopeia, cuja existência de um herói se destaca, cuja mitificação se corrobora, através da presença de episódios mitológicos e históricos e, essencialmente, na narração de uma viagem por mares «nunca dantes navegados», não abdica do bom-senso do professor, cuja sensibilidade literária e, acima de tudo humana, realce a importância do contributo dos outros povos para o enriquecimento cultural e linguístico da Língua Portuguesa.
É esse o ensino que um aluno espera receber de um professor de Português: aquele que o leve a acreditar que a literatura o ajudou a crescer, de forma heroica, num estilo «grandíloquo e corrente», envergando a língua portuguesa como uma medalha, a da universalidade que se espalhou pelo mundo e de quem tanto se orgulha.
Ao estudar Os Lusíadas, e se o aluno quiser, pode terminar o terceiro ciclo com eloquência, com bravura, com a consciência do caminho a seguir, indo mais além e com a prova de que valeu a pena, apesar de todos os sacrifícios.
Na verdade, estudar Os Lusíadas pode ser uma lição de vida: a vontade que nos «ata ao leme» é a que nos faz prosseguir. E é esse espírito que um professor de Português espera dos seus alunos, realçando, através de Camões, a superioridade da Língua Portuguesa. Por isso, entrelaça a História de Portugal, a que Camões conhecia, na Literatura.
Atualmente, um professor de Português tem uma missão maior: demonstrar que os heróis são aqueles que mostram, através de atitudes, pensamentos e ideologias, os valores da humanidade, do ser humano como forças condutoras. Os bons heróis surgem de comportamentos que devem ser imitados para o bem geral. Os que pensam “grande” em prol do “outro”, os que são capazes de ir buscar à literatura exemplos que lhes iluminem o caminho.
No final da linha, depois de os ter ensinado durante três anos, o professor de Português deixa os seus alunos partir com a esperança de que sejam bons exemplos para os outros, pois só uma sociedade com exemplos válidos é uma sociedade com caminho, iluminada, orientada.
Ensinar Português tem muito mais do que letras, frases, textos. Tem a riqueza de os que «por obras valerosas» se «libertaram da lei da morte». Por tudo isso, viva a Literatura Portuguesa e, em particular, Os Lusíadas e Luís de Camões.