O termo opus é masculino pelas razões aduzidas anteriormente (cf. O Opus Dei), confirmadas em qualquer dicionário de Português (por exemplo, no Houaiss ou no da Academia das Ciências de Lisboa) e reconhecidas em qualquer dos outros dois textos desta controvérsia.
Acontece, porém, que é legítima a dúvida, pois há alguma discricionariedade na atribuição do género a entidades de seres não sexuados (ex.: mar em português é masculino e em francês é feminino...). Em português, foi assim, porém, que se deu a passagem do neutro latino. E é por isso que deve ser «o opus magnum», como reconhecem Pedro Múrias e Maria Regina Rocha, que acrescenta ainda o exemplo clássico da música sinfónica.
A divergência começa exactamente aqui.
Primeira contradição: como explicar que não se condescenda – e bem, na minha opinião – que se possa dizer “a” opus magnum ou “a” «opus 125 de Beethoven», e se advogue o contrário para Opus Dei?
Se o subentendido «(a) congregação» (ou «(a) instituição», ou «organização católica»)1 autoriza que se diga no feminino Opus Dei, qual a lógica de não se aceitar o mesmo para opus magnum («a obra maior») ou opus 125?
Não há lógica nenhuma, a lógica é o emprego do masculino sempre que usemos os nomes latinos: o opus magnum, o Opus Dei1, o Opus Ensemble.
Se preferirmos os nomes em português – Obra de Deus, obra maior ou obra principal –, então, sim, devemos usar o género correspondente na nossa língua: a Obra de Deus, a obra maior, a obra principal.
Segunda contradição, esta circunscrita à argumentação de Pedro Múrias: que regra é essa que impõe o género feminino à (empresa) Jerónimo Martins, no exemplo dado, e já não o impõe noutros casos [por exemplo, com a empresa de nome CTT (os CTT), ou com uma instituição mutualista como o Montepio Geral]? A explicação da professora Maria Regina Rocha afigura-se-me suficientemente esclarecedora.
E porque é que, quanto aos nomes dos clubes de futebol, é «hipercorrecção» preferir a União de Leiria em vez de “o” União de Leiria, e já não o é em relação aos também clubes Académica de Coimbra ou Portuguesa dos Desportos de São Paulo (ditos e escritos, sempre, a Académica e a Portuguesa dos Desportos)?
Resposta: porque não é o que está “implícito” «junto ao nome próprio» (empresa clube, congregação, etc.) a determinar o artigo no feminino ou no masculino – mas a forma como esses nomes foram constituídos.
São os casos citados no texto da professora Maria Regina Rocha, assim como os referidos nas respostas anteriores. Alguns deles: União Desportiva de Leiria = a União de Leiria; Associação Naval 1.º de Maio = a Naval; Associação Académica de Coimbra = a Académica; Associação Portuguesa de Desportos = a Portuguesa de Desportos; mas: o União da Madeira, porque o substantivo “clube” faz parte do respectivo nome oficial, Clube Futebol União.
Finalmente: e Ciberdúvidas – será assim tão seguro que deva ser o Ciberdúvidas? Porque é um sítio/site na Internet? Mas também podemos chamar-lhe página. Sendo página, nessa mesma lógica do que fica implícito, seria então também aceitável a Ciberdúvidas... E não podendo, ou melhor, não devendo ser “as” Ciberdúvidas (uma vez que Ciberdúvidas não se reduz às cujas ditas sobre a Língua Portuguesa), não será preferível o género neutro? O tempo e o uso generalizado do/de Ciberdúvidas di-lo-ão...
1 «Prelatura» ou «prelazia», mais apropriadamente, conforme a nomenclatura oficial
2 O Opus Dei é assim, no masculino, que escreve o próprio Opus Dei