Antologia // Portugal Para que te serve a língua A língua é um instrumento de prazer. Por vezes doce, por vezes amarga.Para usar e abusar. Para aceitar e para recusar. Para dizer. Para amar. Paramentir. Para lutar. Para viver.A língua pode ser meiga, suave, túrgida, bífida, trabalhadeira. Ou entãobrusca, áspera, terrível, iracunda, traiçoeira. Como os sentimentos. À flor dapele. Viriato Teles · 25 de setembro de 2008 · 8K
Antologia // Portugal Para que serve a Língua Portuguesa «Tinham sido dias complicados, febres descontroladas e sem razão aparente, ora muito altas, ora muito baixas, e o braço a inchar, e a doer horrivelmente, assim como se a carne fosse rebentar da pele – mas eu odeio hospitais, e fui tentando tudo (incluindo aquelas mezinhas que a gente já sabe que não resolvem rigorosamente nada mas que dão um grande consolo à alma – e se a alma precisava de ser consolada, meu Deus!) para ver se a coisa se resolvia a nível caseiro.» Texto da escritora Alice Vieira publicado no Jornal de Notícias de 22 de Junho de 2008 Alice Vieira · 28 de julho de 2008 · 3K
Antologia // Portugal A Língua Portuguesa Esta língua que eu amoCom seu bárbaro lanhoSeu melSeu helénico salE azeitonaEsta limpidezQue se nimbaDe surdaQuanta vezEsta maravilhaAssassinadíssimaPor quase todos os que a falamEste requebroEsta ânforaCantanteEsta máscula espadaGraciosíssimaCapaz de brandir os caminhos todosDe todos os aresDe todas as dançasEsta vozEsta línguaSoberbaCapaz de todas as coresTodos os riscosDe expressão(E ganha sempre à partida)Esta língua portuguesaCapaz de tudoComo uma mulher realmenteApaixonadaEsta língua Alberto de Lacerda · 4 de novembro de 2007 · 2K
Antologia // Portugal A nossa magna lingua portugueza * A nossa magna lingua portugueza De nobres sons é um thesouro. Seccou o poente, murcha a luz represa. Já o horizonte não é oiro: é ouro. Negrou? Mas das altas syllabas os mastros Contra o ceu vistos nossa voz affoite. O claustro negro ceu alva azul de astros, Já não é noute: é noite. 26-8-1930 Fernando Pessoa · 4 de novembro de 2007 · 5K
Antologia // Portugal Um poeta na turma Ainda não disse que tenho um Poeta na turma. É o Romão. Faz o possível por "parecer" Poeta, pela maneira como se senta, pelo tom de voz, e até pelo reclamo falado que de si faz: assina "o Poeta"; acha naturalíssimo que eu lhe chame "ó Poeta" e diz aos outros que se não devem admirar de que haja Poetas que escrevem prosa: «Eu também sou Poeta e faço muitas redacções.» Tenho-lhe dito que é preciso ser Poeta princip... Sebastião da Gama · 3 de julho de 2007 · 3K
Antologia // Portugal Má consciência O adjectivo Dá-me de comer.Se não fora eleO que houvera de ser?(...) Alexandre O'Neill · 22 de junho de 2007 · 4K
Antologia // Portugal Há palavras que nos beijam Poema de Alexandre O'Neill (Lisboa 1924 – Lisboa, 1986), transcrito do livro No Reino da Dinamarca, editado em 1958. Alexandre O'Neill · 24 de maio de 2007 · 8K
Antologia // Portugal Invenção da escrita Com as minhas mãos calejadas e fortesaprendi a trabalhar novos materiais:depois da pedra veio o bronze,depois da madeira o aço, o barro e o ouro.Eu não parava de crescerem tudo aquilo que aprendia, eu não parava de me deslumbrarcom tudo aquilo que descobria e ainda me faltava aprendertanta, tanta coisa. Um diadisse para comigo: "O que aprenderestambém deves ensinar",e foi assim que fiz dos filhosmeus alunos e dos alunosmeus her... José Jorge Letria · 11 de maio de 2007 · 4K
Antologia // Portugal Colagem Palavras,sereis apenas mitossemelhantes ao mirtodos mortos?Sim,conheçoa força das palavras,menos que nada,menos que pétalas pisadasnum salão de baile,e no entantose eu chamassequem dentre os homens me ouviriasem palavras? Carlos de Oliveira · 10 de abril de 2007 · 4K
Antologia // Portugal Coágulo do Tempo Apreender com as palavras a substância mais nocturnaé o mesmo que povoar o desertocom a própria substância do desertoHá que voltar atrás e viver a sombraenquanto a palavra não existeou enquanto ela é um poço ou um coágulo do tempoou um cântaro voltado para a sua própria sedeTalvez então no opaco encontremos a vértebra inicialpara que possamos coincidir com um gesto do universoe ser a culminação da densidadeSó assim as palavras serão o fruto da sombr... António Ramos Rosa · 5 de março de 2007 · 5K