Não é só a língua portuguesa que se mostra sensível às mudanças. O exemplo mais paradigmático é o da língua alemã.
Já no final do século XIX foram intensas as discussões para se adoptar uma ortografia unificada, o que só veio a acontecer em 1901, com base no dicionário do filólogo Konrad Duden. Com a separação da Alemanha, entre 1945 e 1991 – e sem tempo para o regime nazi impor uma reforma ao estilo da que agora vigora –, desenvolveram-se regras diferentes para as edições do Duden no Oeste e no Leste. E desde 1980 que se realizaram encontros para a reforma. Mas foi em 1996 que a polémica estalou. Após anos de trabalho de uma comissão, a Alemanha, a Suíça, a Áustria e o Liechtenstein (o Luxemburgo ficou de fora) assinam uma declaração conjunta para a aplicação de uma reforma ortográfica. Na Feira do Livro de Frankfurt, uma centena de escritores e professores universitários, com Günter Grass à cabeça, manifestou-se contra a reforma. O caso chegou ao Supremo Tribunal alemão, que em 1998 deu provimento à reforma, mas tornando-a obrigatória apenas nas escolas.
A partir de 1998 as novas regras ortográficas começaram a aplicar-se em todas as escolas dos países germanófonos. No entanto, foi concedido um período de transição até 2005.
A controvérsia foi-se mantendo ao lume – com os estados federados da Baviera e da Renânia do Norte-Vestefália a recusarem a reforma. O caldo entornou quando o Frankfurter Allgemeine Zeitung, prestigiado diário, resolveu voltar às regras antigas. Sondagens indicam que a larga maioria dos alemães está contra a reforma. Aos poucos, outros títulos de estilos tão diversos como o Bild (tablóide) ou o Die Welt (de referência) seguiram o periódico de Frankfurt.
Perante este panorama, os ministros da Cultura decidiram, em 2004, fazer uma «reforma à reforma», que entrou em vigor no ano passado e à qual os estados federados rebeldes se subjugaram. Mas o assunto continua longe de ser pacífico.