Pelourinho Nem à bola mais esfarrapada O baixo nível do futebol português não se avalia apenas pelo exibido nos estádios, e que as imagens via TV ainda mais escancaram. Basta ouvir falar os chamados dirigentes (honra às excepções!), especialmente quando eles se pontapeiam verbalmente uns aos outros. Ou os jogadores, treinadores e, até, os comentadores do meio, que tratam a língua (honra também às excepções!) como nem à bola mais esfarrapada. Na exacta medida, afinal, do cartaz empunhado por um grupo de adeptos do falido Sporting Fare... José Mário Costa · 24 de março de 2003 · 2K
Lusofonias Os “maquisards” da língua A última frase de um texto transcrito pelo Ciberdúvidas é «E todos têm razão» (1). Frase essa que me faz reflectir muito sobre as discussões ininterruptas que tenho presenciado ou de que tenho notícia nos últimos tempos. Discussões a propósito, precisamente, da propriedade de quem fala e como fala o Português e da razão que seria um atributo distribuído com parcimónia aos falantes da língua e, apenas, a alguns falantes. Ida Rebelo · 21 de março de 2003 · 3K
Lusofonias Kinta-feira! Quando soube pelo "Expresso" de sábado que a nossa mascote para o Euro'2004 é «um rapaz de cabelo espetado, com ar de reguila, e de nome Quinas» fiquei ligeiramente intranquilo. Apesar de o cabelo espetado repelir a possibilidade de o reguila usar o bivaque do Chefe de Quina da antiga Mocidade Portuguesa, o nome é demasiado marcante. A principiar pelas quinas da nossa bandeira. Manuel Tavares · 20 de março de 2003 · 3K
O nosso idioma // Regionalismos Regionalismos Ao contrário do que pensam algumas conceituadas cabeças, falar e escrever bem a língua portuguesa não é exactamente uma mera preocupação de coca-bichinhos, de sujeitos caturras, portadores de uma dúzia de regras prontas a usar, sempre dispostos a embirrar com novas construções e com a natural evolução das formas. Acontece que a língua é património comum de largas dezenas de milhões de indivíduos, e ... Appio Sottomayor · 14 de março de 2003 · 7K
Antologia // Angola Discurso sobre o fulgor da língua De Portugal às suas ex-colónia africanas «Segundo Agostinho da Silva — escreve neste conto* o escritor angolano José Eduardo Agualusa — as línguas afeiçoam-se às geografias que colonizam. Num horizonte amplo, desafogado, o sotaque é mais aberto, e numa paisagem fechada ele tende a fechar-se. Assim, no Brasil, em Angola ou em Moçambique as pessoas falam a nossa língua abrindo mais as vogais, e nos Açores, na Madeira, em Portugal continental, mas também em Cabo Verde, fecham-nas. As línguas afeiçoam-se às geografias que colonizam. Num horizonte amplo, desafogado, o sotaque é mais aberto, e numa paisagem fechada ele tende a fechar-se. Assim, no Brasil, em Angola ou em Moçambique as pessoas falam a nossa língua abrindo mais as vogais, e nos Açores, na Madeira, em Portugal continental, mas também em Cabo Verde, fecham-nas.» * conto inserto no livro do autor Catálogo de Sombras. José Eduardo Agualusa · 13 de março de 2003 · 7K
Controvérsias A propósito da vírgula nas orações relativas Ao sustentar esta controvérsia com o dr. José Neves Henriques, não me sinto numa posição confortável. O dr. José Neves Henriques é um estudioso da Língua Portuguesa e já deu sobejas provas dos conhecimentos que tem sobre ela. Com as suas explicações no Ciberdúvidas, aprendi muito e espero continuar a aprender. Pelo contrário, eu entrei como consultora para o Ciberdúvidas praticamente na mesma altura em que manifestei a min... Maria João Matos · 7 de março de 2003 · 6K
Antologia // Portugal A chama plural Sonho e simulacro da unidade da língua «Não se pode dizer de língua alguma que ela é uma invenção do povo que a fala. O contrário seria mais exacto. É ela que nos inventa. A língua portuguesa é menos a língua que os portugueses falam, que a voz que fala os portugueses. Enquanto realidade presente ela é ao mesmo tempo histórica, contingente, herdada, em permanente transformação e trans-histórica, praticamente intemporal. Se a escutássemos bem ouviríamos nela os rumores originais da longínqua fonte sânscrita, os mais próximos da Grécia e os familiares de Roma.» Artigo de Eduardo Lourenço (1923-2020) escrito em Vence, em 11 de Fevereiro de 1992, para o Atlas da Língua Portuguesa na História e no Mundo (coord. por António Luís Ferronha, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda/Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses/União Latina, pp. 12/13). Posteriormente incluído no livro A Nau de Ícaro seguido de Imagem e Miragem da Lusofonia (2.ª ed. Lisboa, Gradiva,1999, pp. 121-124) e nas Obras Completas Volume IV – Tempo Brasileiro: Fascínio e Miragem (Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2018). Eduardo Lourenço · 27 de fevereiro de 2003 · 8K
O nosso idioma // Dicionários Os dicionários de língua Se o léxico de uma língua é um sistema dinâmico, isto é, se se caracteriza pelo movimento, importa esclarecer como é visualizada a relação entre um léxico com essas características e um dicionário, produto acabado e, por natureza, entidade estática. Para o fazer, importa responder a algumas perguntas e desmistificar algumas ideias feitas sobre os dicionários: 1. Até que ponto é que o dicionário determina o que pertence e o que não pertence às línguas? Margarita Correia · 26 de fevereiro de 2003 · 9K
Controvérsias A vírgula nas orações relativas Voltando à querela da vírgula de Saramago e ao último texto da dr.ª Maria João Matos, talvez que na frase «Uma língua que não se defende, morre», a oração relativa não tenha as características bem marcadas de oração restritiva. Vejamos as seguintes frases: a) Uma língua que não se defende, morre. b) Um homem que não se defende, morre. Suponhamos a seguinte situação: (...) José Neves Henriques (1916-2008) · 24 de fevereiro de 2003 · 6K
Pelourinho Excelente iniciativa … até em nome do défice! A Câmara Municipal de Albufeira acaba de seguir o exemplo da Prefeitura do Rio de Janeiro na penalização dos responsáveis pelos cartazes publicitários (e não só) com erros de Português. Ora aí está uma excelente iniciativa, e não apenas em prol desta tão maltratada Língua Portuguesa em locais públicos. Com tantos erros que grassam por aí, a senhora ministra das Finanças bem pode sorrir: para além das portagens, há outra forma de colmatar o défice das contas públicas... José Manuel Matias · 24 de fevereiro de 2003 · 2K