Nos passados dias 24 e 25 de maio, a cantora norte-americana Taylor Swift deu dois concertos na cidade de Lisboa para um Estádio da Luz esgotado nas duas datas. Para muitos fãs que esperaram pela vinda da estrela pop a Portugal, o espetáculo que esta apresentou foi emotivo e inigualável. No entanto, se houve quem o considerasse ambicioso pelo número de músicas, danças e cenários apresentados, o certo é que a sua dinâmica não se diferenciou muito daquela que foi apresentada nos concertos que realizou, durante o ano passado, na sua digressão pelo continente americano. Contudo, houve também momentos surpreendentes como aqueles em que a cantora se dirigiu à sua audiência em português. Numa dessas ocasiões, no segundo concerto, enquanto cantava a música “We are Never Ever Getting Back Together”, Taylor terá passado o microfone a um dos seus bailarinos que em vez de cantar um dos versos habituais da música em inglês, gritou, para alegria do público, a expressão «nem que a vaca tussa». Mas afinal de contas, o que significa «nem que a vaca tussa» e em que situações se pode utilizá-la?
Segundo o dicionário Priberam, «nem que a vaca tussa» tem uma origem obscura e é usada em contextos informais com o sentido «de maneira nenhuma». A sua formulação completa é «nem que a vaca tussa e o boi espirre», o que alude a que algo jamais acontecerá mesmo que outro fenómeno improvável, como uma vaca tossir e um boi espirrar, suceda. Contudo, pode também ter um uso concessivo, como indicam o dicionário em linha Infopédia e o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, ou seja, pode ser usada no sentido de «aconteça o que acontecer» ou «dê lá por onde der». Esta expressão idiomática não é a única na língua portuguesa que pode ser usada na situação de «nunca mais». Expressões como «no dia de São Nunca à tarde» ou «quando as galinhas tiverem dentes» são igualmente possíveis.
Relativamente à expressão «no dia de São Nunca à tarde», a sua origem não consta descrita em fontes sólidas, contudo, alguns sítios da internet indicam que esta terá sido motivada pelo calendário religioso, de cariz popular, em que cada dia é dedicado a um santo. Neste sentido, o Dia de São Nunca (a que muitos acrescentam «à tarde») é uma substantivação jocosa do advérbio nunca que leva ao absurdo a ideia de existir um dia dedicado a um santo que, na realidade, não existe, o que remete para um sentido de inexistência, isto é, jamais acontecerá. Já a expressão «quando as galinhas tiverem dentes» baseia-se na fraca probabilidade de as galinhas virem a desenvolver uma dentadura, portanto, tem também o sentido de que algo nunca irá ocorrer.
O uso de expressões como esta no discurso pode, de certo modo, conferir-lhe um tom cómico, uma vez que não deixa de ter graça imaginar uma vaca a tossir, um boi a espirrar ou uma galinha com dentes. Porém, o português não é a única língua em que existem expressões para referir acontecimentos que nunca vão suceder. Por exemplo, em inglês, língua materna de Taylor Swift, uma expressão equivalente a «nem que a vaca tussa» é «when pigs fly» (quando os porcos voarem), já para os espanhóis será «cuando las ranas críen pelo» (quando as rãs tiverem cabelo). Por sua vez os italianos optam por dizer «aspettare che gli asini volino» (esperar que os burros voem) e até os russos afirmam preferir «esperar que os caranguejos assobiem do alto de uma montanha» (когда рак на горе свистнет).
Portanto, mesmo no dia de São Nunca à tarde, quando as vacas tossirem, os bois espirrarem, as galinhas tiverem dentes, os porcos e os burros voarem, as rãs apresentarem crescimento de cabelo e os caranguejos assobiarem, o mais provável é que a protagonista da música “We are Never Ever Getting Back Together” jamais volte para junto do seu ex-namorado, tal como canta bem alto.