Por esta altura do ano, palavras como amêndoas, ovos, coelho ou folar preenchem os cartazes e anúncios publicitários que assinalam a época festiva da Páscoa. Esta celebração é uma das mais importantes do calendário cristão, no entanto, as suas origens são mais antigas que a própria ideia de cristandade. Páscoa é um termo com origem na palavra hebraica pesah, que significa passagem, tendo chegado ao português, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), por via do vocábulo latino pascha.
Na tradição judaica, esta festa religiosa, designada cabalmente de Páscoa judaica, comemora a saída dos hebreus (judeus) do Egito, onde viviam como escravos, por esta razão a festividade é também conhecida como «Festa da Libertação». Nesta data, é comum os judeus comerem matzá, um pão sem fermento, que simboliza o alimento dos escravos. Por outro lado, a Páscoa cristã celebra a ressurreição de Jesus Cristo, três dias depois da sua crucificação. Aliás, o termo crucificação, para além de referir um tipo de castigo aplicado na Antiguidade e que «consistia em pregar uma pessoa numa cruz» (Infopédia), é, nos dias de hoje, utilizado, no sentido figurado, para mencionar acusações ou condenações de alguém sem grande fundamento. No calendário católico, a sua celebração ocorre 47 dias depois do Carnaval, denominando-se o período compreendido entre estes dois eventos de Quaresma, palavra derivada do termo latino quadragesĭma e que significa precisamente quarenta.
Para além das suas raízes judaicas, a Páscoa também tem influências pagãs. Nos tempos antigos, a primavera era vista como um momento de renovação e renascimento, o que fazia com que muitos povos celebrassem a sua chegada com festividades pagãs. Em algumas destas festas era comum a troca de ovos, símbolo do nascimento, e o recurso ao coelho como animal simbólico que representava a fertilidade. Na verdade, pensa-se que o hábito de decorar e oferecer ovos é muito anterior ao nascimento de Cristo, mas acabou por se difundir nas celebrações da Páscoa com a expansão do cristianismo pelo continente europeu. Portanto, a maneira como a Páscoa é celebrada hoje em dia advém de uma conjugação entre a tradição judaico-cristã e algumas tradições de povos pagãos.
Neste sentido, em muitos países, como Portugal, a Páscoa assinala não só um importante acontecimento religioso, mas serve também de momento de reunião familiar e deleite gastronómico. São vários os pratos típicos portugueses associados a esta celebração, como, por exemplo, o famoso folar. Esta palavra, cuja etimologia é, segundo o DLPACL, considerada de origem obscura, tem um duplo sentido, na medida em que tanto refere um «bolo recheado de ovos cozidos inteiros, que se come, tradicionalmente, na Páscoa» como ainda um «presente que os padrinhos costumam oferecer aos afilhados e os paroquianos ao pároco, por ocasião da Páscoa» (DLPACL). Por conseguinte, dos presentes típicos oferecidos nesta época, além dos famosos ovos de chocolate, é também comum, em Portugal, os padrinhos oferecerem amêndoas, cuja árvore de onde provêm floresce na altura da primavera. Este fruto é geralmente coberto com uma calda de açúcar crocante colorido ou chocolate e é vendido em vários espaços comerciais.
Resumidamente, o campo lexical desta época festiva vai muito além do litúrgico e está igualmente presente na gastronomia, doçaria e tradição.