« (...) A língua portuguesa domina o programa do Partido Comunista Português; LGP, mirandês e barranquenho estão ausentes. (...)»
A única proposta da Iniciativa Liberal é a língua portuguesa ser ensinada aos filhos dos emigrantes como língua materna. Defende-se que tal se conseguirá «revogando as taxas de inscrição para cidadãos portugueses ou seus filhos; voltando a trazer a tutela do Ensino de Português no Estrangeiro [EPE] (vertente de língua materna) para o Ministério da Educação [ME], distinguindo o ensino do Português como língua estrangeira e como língua materna» (p. 97). As comunidades emigrantes carecem de «soluções que garantam o ensino de português aos seus filhos tal como o teriam em Portugal» (p. 164), o que me suscita uma nota: o ensino de português no estrangeiro não pode ser idêntico ao de português em Portugal, porque ocorre no estrangeiro, onde as escolas não são reguladas por Portugal. Outras questões linguísticas, o mirandês, o barranquenho e a Língua Gestual Portuguesa (LGP) estão ausentes do texto.
A língua portuguesa domina o programa do Partido Comunista Português; LGP, mirandês e barranquenho estão ausentes. Entre os direitos sociais, refere-se «o acesso à cultura e a defesa do património, a valorização da língua e da cultura portuguesas» (p. 10) e também administração e serviços públicos que valorizem «língua e cultura portuguesas» (p. 74). Para a ciência, propõe-se «garantir a existência dos instrumentos fundamentais ao desenvolvimento tecnológico em língua portuguesa» (p. 31); para a educação, uma escola inclusiva, com «reforço dos apoios a crianças que não têm o português como língua materna» (p. 64); para a cultura, «promover medidas (…) para a valorização da Língua Portuguesa» (p. 70); para a comunicação social, «criar um jornal diário de propriedade pública, (…) que contribua para (…) a valorização da língua, da cultura» (p. 73). Defende-se «uma política de Língua que promova a preservação e expansão do Português, enquanto língua materna, aos lusodescendentes», o «reforço da rede [EPE], nos níveis de ensino Pré-escolar, Básico e Secundário, a eliminação da propina e a gratuitidade dos manuais escolares» (p. 75). Este programa e o do Chega são os únicos que usam a ortografia de 1945.
O programa do Bloco de Esquerda realça o papel mediador das línguas no acesso a serviços públicos – e.g. a saúde («O SNS deve ser dotado de mediadores culturais e de intérpretes, incluindo de [LGP]», (p. 42); e a cultura («apoio a interpretação em [LGP] nos espetáculos ao vivo e a produção de versões em braille ou em áudio dos materiais impressos», p. 206). Para a emigração, propõe-se a abolição das propinas de acesso ao EPE (p. 213), e a criação de «programas e dispositivos de apoio a projetos culturais e sociais nos territórios da emigração» (p. 213). O ensino de línguas é visto como medida fundamental para a integração de imigrantes e propõe-se: que os alunos de Português Língua Não Materna «devem beneficiar de um momento propedêutico para aquisição da língua portuguesa» (p. 162); formação de «docentes e outros agentes educativos para promoção da igualdade racial e valorização da história, línguas e culturas das comunidades migrantes e racializadas mais representadas», «programas de ensino bilingue e abertura dos espaços escolares à vida cultural das comunidades [e] Incremento do programa "Português Língua de Acolhimento", de modo a garantir oferta contínua de ensino formal da língua portuguesa desde o início da permanência em Portugal» (p. 245). Defende-se a «Introdução do Direito a 150h anuais de Interpretação de [LGP] no código do trabalho» (p. 259), o «Reforço da Educação Bilingue para os alunos Surdos e da aprendizagem da [LGP] para todas as pessoas», «da áudio descrição [sic], legendagem e interpretação de LGP dos conteúdos audiovisuais» e «Promoção do reconhecimento da [LGP] como idioma oficial do Estado português» (p. 260). O mirandês e o barranquenho estão ausentes e questões linguísticas não constam das propostas para a política externa.
O Livre entende que as línguas são promotoras de igualdade e acesso a serviços públicos. Propõe «implementar uma rede de serviços de apoio a vítimas e sobreviventes de violência (…) incluindo a criação de uma bolsa especializada de tradução e interpretação disponível para entidades que atendem pessoas com deficiência, migrantes e outras comunidades com especificidades linguísticas e culturais» (p. 13), a contratação de intérpretes de LGP e, em algumas localidades, ensino de língua gestual em todos os ciclos e escolas (p. 18). Os serviços de saúde deverão «garantir a presença de pessoal com formação em [LGP], assim como uma rede de tradutores e intérpretes rapidamente ativada para dar resposta às comunidades emigrantes [sic] que não falam português» (p. 38). A escola será «instrumento transversal de igualdade e de justiça social», «integrando a aprendizagem da [LGP] (…); providenciando aulas da língua materna das crianças, nomeadamente as que usam mirandês, línguas crioulas na família ou caló ou romani português (…)» (p. 50); deve ser criado «um grupo de recrutamento de Português Língua Não Materna» (p. 48). Quanto à emigração, a defesa do EPE implica distinguir «o ensino de português como língua estrangeira do ensino de português como língua materna, mudando a tutela do [EPE], vertente de língua materna» dos Negócios Estrangeiros para o ME, «revogando a propina» e expandindo a rede (p. 50). Para a cultura, defende-se, e.g. «criação de um programa de apoio à edição independente em língua portuguesa» (p. 68), de um programa de financiamento à tradução e edição crítica de obras fundamentais do património coletivo da humanidade não traduzidas para português, a ser editadas em formato bilingue e acesso aberto (p. 69). Apresentam-se propostas concretas para a proteção e promoção da língua mirandesa (p. 65).
Cf. Margarita Correia: As reformas ortográficas não são feitas para os velhos. São feitas para o futuro.
Crónica da linguísta e professora universitária portuguesa Margarita Correia, transcrito, com a devida vénia, do Diário de Notícias de 26 de fevereiro de 2024.