« (...) O Dicionário da Língua Portuguesa Medieval (DLPPM) tem a particularidade de ter sido baseado num corpus informatizado de textos medievais, i.e. num acervo de textos da época devidamente transcritos e digitalizados. (...).»
Terá lugar hoje [28/11/2022], pelas 18h00 horas, na livraria Leya Buchholz (Lisboa), a apresentação do Dicionário da Língua Portuguesa Medieval (DLPM), resultante de um projeto desenvolvido, entre 2004 e 2007, no Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa (UNL), e coordenado por João Malaca Casteleiro (Universidade de Lisboa – ULisboa), Maria Francisca Xavier (UNL), ambos já falecidos, e, ainda, por Maria de Lourdes Crispim, professora aposentada da UNL. A obra, publicada em julho deste ano, tem a chancela da Editorial Caminho.
O DLPM regista e descreve vocabulário que cobre o período entre o séc. XII e o início do séc. XVI, i.e. está integrado nos chamados períodos pré-literário (até cerca do final do século XII), galego-português ou antigo (até 1385/1420) e pré-clássico ou médio (até 1536/1550) do português. A periodização da língua portuguesa contempla, ainda, o português clássico (séculos XVI a XVIII) e o português moderno (século XIX até à atualidade).
O DLPM tem a particularidade de ter sido baseado num corpus informatizado de textos medievais, i.e. num acervo de textos da época devidamente transcritos e digitalizados, o que permite pesquisas mais finas da informação lexical e a produção de um trabalho lexicográfico mais sistemático. O corpus do DLPM é constituído por 3 347 916 itens ou palavras, cifra que poderá parecer pequena quando pensamos em corpora textuais contemporâneos, com centenas de milhões de itens, mas que é extremamente significativa se atentarmos à época focada, com escassa produção de texto escrito (de que hoje se conhece seguramente apenas uma pequena porção), manuscrito (a imprensa de tipos móveis surge na Alemanha cerca de 1439 e o primeiro livro impresso em Portugal, o Pentateuco, data de 1487). O dicionário tem 17 202 entradas e, para cada uma, além da informação corrente em obras deste género, apresenta descrição exaustiva e as respetivas variantes gráficas encontradas.
Apesar de ser uma das línguas faladas do mundo, de ter conhecido a atribuição de um "Dia Mundial" pela UNESCO em 2019 e de se prever grande crescimento do seu número de falantes ao longo deste século, a língua portuguesa carece ainda de obras lexicográficas à altura da sua importância.
Saúda-se, assim, a publicação do DPLM, que se junta às publicações recentes da edição revista do Vocabulário histórico-cronológico do Português Medieval, de Antônio Geraldo da Cunha (2014, Fundação Casa de Rui Barbosa, Brasil), projeto iniciado em 1979 pelo autor, que não chegou a ver a sua conclusão, e à publicação digital do Dicionário Histórico do Português do Brasil, projeto ideado e lançado pela saudosa Maria Tereza Camargo Biderman em 2007 e concluído sob coordenação de Clotilde de Azevedo Murakawa, ambas docentes da Universidade Estadual Paulista – UNESP (2021, https://dicionarios.fclar.unesp.br/dhpb/).
A apresentação do DPLM estará a cargo dos professores Maria Teresa Brocardo (UNL) e António Sampaio da Nóvoa (ULisboa).
Nota. Já depois de publicada a crónica anterior, tomei conhecimento dos dados do Observatório da Diversidade Linguística e Cultural na Internet, de 2022. A percentagem atual de falantes de língua portuguesa conectados à internet é globalmente de 74% (era de 67% em 2020), tendo o Brasil atingido 81% de população conectada (contra 74% em 2020) e Portugal 78% (contra 75% em 2020). A esta progressão não serão certamente alheias as necessidades geradas pela pandemia de covid-19 e pelos confinamentos dela decorrentes.
Crónica da linguista e professora universitária Margarita Correia, publicada no Diário de Notícias em 28 de novembro de 2022.