Entre as mortes, os óbitos e os falecimentos resultantes da covid-19, a realidade política [em Portugal] abriu portas a outra dimensão da morte: a eutanásia.
A palavra deriva do grego, que junta os elementos eu, que significa «boa», a thanatos, que significa «morte». Na sua origem, eutanásia era o nome dado a uma morte calma, sem sofrimento. É conhecida a frase que o imperador Augusto pronunciava, quando tinha conhecimento de que alguém morrera tranquilamente: «Que os deuses me concedam uma eutanásia assim».
Nos dias de hoje, o conceito da palavra eutanásia evoluiu para descrever a ação desenvolvida por alguém, que tem a intenção de permitir a outrem uma morte sem dor. Este conceito tem aberto uma discussão sobre se a eutanásia pode ser reconhecida como direito de quem sofre de forma desumana física ou psicologicamente.
No centro de uma intensa discussão política, ética e religiosa, a eutanásia relaciona-se diretamente com o direito de decidir sobre a vida e com a possibilidade de se decidir o momento em que já não faz sentido viver. Entre os limites do pessoal e do coletivo, aquilo por que se luta é, afinal, a eutanásia de que falava o imperador: o direito a morrer calma e tranquilamente.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Carla Marques - direito à eutanásia]
Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 28 de fevereiro de 2021.