Uma das vírgulas mais interessantes é a vírgula a que Benjamin Dreyer chama a “only comma” [«vírgula única»].
Veja-se a frase «Fui à Figueira da Foz com a minha filha Sara».
Um bom revisor perguntaria se é filha única. Se a Sara fosse a minha única filha, a vírgula seria indispensável: «Fui à Figueira da Foz com a minha filha, Sara.»
Mas como tenho outra filha estou apenas a identificar qual foi a filha que foi comigo: «A próxima vez que for à Figueira da Foz será com a minha filha Tristana.»
Dreyer arranjou um bom exemplo: «O segundo casamento de Elizabeth Taylor, com Michael Wilding», mas «o segundo casamento de Elizabeth Taylor com Richard Burton», porque ela se casou duas vezes com ele – mas só uma vez com o segundo marido, Michael Wilding”.
«Traz-me a garrafa de gin que está em cima da mesa»: estou especificamente a pedir aquela garrafa de gin especificamente, talvez para não confundir com outras garrafas de gin que eu terei em casa.
Se eu puser a vírgula única, estou a dizer que só tenho uma garrafa de gin em casa – ou, pelo menos, a tentar convencer o meu interlocutor que só tenho uma: «Traz-me a garrafa de gin, que está em cima da mesa.»
Talvez seja melhor não a usar: «Traz-me a garrafa de gin. Está em cima da mesa.»
Um dos encantos de Dreyer’s English é a maneira como ele compara o inglês americano com o inglês europeu e, só por alto, com o inglês da Índia.
Recomendo assim a edição inglesa do livro com bastante material escrito de propósito para o mercado britânico.
Será o livro de estilo mais divertido de sempre? Quase.
Cf. ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação + O poder da vírgula + Saiba usar a vírgula