« (...) Não sei, em termos objetivos, se tem havido um acréscimo de estudos quantitativos na área da pedagogia e didática e por isso ironicamente só posso dizer que segundo a minha experiência não me parece que isso esteja a acontecer. (...)»
No que toca a pedagogia, didática ou metodologias de ensino é fácil encontrar professores, pais, diretores, explicadores, autores de manuais escolares a terem uma opinião. Todos têm uma opinião, todos têm certezas até, de como é que as matérias e desempenhos devem ser ensinados. Se alguém perguntar em que se baseiam tais convicções é muito provável que a resposta venha da própria experiência profissional. Outras vezes, podem basear-se naquilo que parece óbvio ou que é ditado pelo senso comum. Outras vezes ainda, estão baseadas em impressões apenas.
Há muitas perguntas em ensino de línguas que parecem absurdas, pois toda a gente parece já saber as respostas. Perguntas como
1 – Os alunos adquirem mais vocabulário lendo textos ou através do acesso a listas temáticas de palavras?
2 – Qual é o ensino da gramática mais eficaz: o tradicional/dedutivo (de exposição a regras e posterior aplicação em exercícios) ou o ensino pelos métodos dedutivos ou de laboratório gramatical?
3 – Que padrões de erros ortográficos variam com a idade ou ano de escolaridade?
Podemos então responder a estas perguntas segundo o que nos parece ou podemos aplicar métodos de investigação para apurar dados quantitativos, que podem não dar uma resposta cabal, mas que são indicadores a ter em conta na formulação de uma resposta, fundada em observações sistematizadas.
Mas não se pense que um trabalho de investigação quantitativa é uma questão de recolher números. É muito mais complexo do que isso. Para o tratamento dos números é preciso definir conceitos ou categorias, estabelecer uma hipótese, introduzir variáveis e operacionalizá-las através da atribuição consistente de valores a cada variável. Isto só quanto ao desenho do experimento. Depois é preciso ir para o terreno, escolher a amostra, arranjar colaboradores para aplicar os materiais de testagem, garantir que os materiais são bem aplicados. O primeiro estudo a aplicar no terreno deverá ser um estudo-piloto, o que quer dizer que após correções de falhas procedimentais ou outras, o estudo irá ser repetido junto de outra amostra de mais largo espectro.
Não sei, em termos objetivos, se tem havido um acréscimo de estudos quantitativos na área da pedagogia e didática e por isso ironicamente só posso dizer que segundo a minha experiência não me parece que isso esteja a acontecer, pois não vejo em congressos ou em publicações muitas referências a resultados de projetos de investigação desenvolvidos em Portugal com recurso a métodos quantitativos. Posso é afirmar que em todo o meu percurso académico – sou professora de português e investigadora – não encontro acesso fácil e de qualidade a uma formação neste domínio. E isso não pode ser um bom indicador.
Apontamento da autora para a rubrica "Cronigramas" do programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, em 16/12/2018.