Black Friday1: «O Maior Rasgão de Preços do Ano» é anunciado por uma grande superfície para uma destas sextas-feiras. Isto tem significado imediato? Está bem, percebe-se a mensagem, mas... “rasgão”? É inteligível o seu conteúdo? Estamos perante uma inovação lexical, sugestiva na sua criatividade ou, pelo contrário, criadora de incompreensão e, por isso, pobre?
Quando ouvi pela primeira vez a expressão Black Friday, há uns anos, não percebi logo que aquilo era, afinal, uma coisa boa. Aquele black ecoava calamidades, catástrofes, derrocadas económicas, sei lá mais o quê! Tudo menos eletrodomésticos a caírem no nosso colo, roupas a pedirem para habitar os nossos armários, telemóveis a piscarem olhos tentadores à nossa passagem, computadores a oferecerem-se sem decoro, enfim, um maná de felicidade a que dificilmente se fica indiferente. Muito menos os lojistas, grandes e pequenos, que acolheram este dia como um aliado perfeito para as suas folhas de rendimento.
Não percebo é por que raio ali está o black… e, já agora, o friday.
Nesta febre veloz do consumismo, e por arrastamento, já fomos premiados também com a black week! E deve vir aí a Grey Thursday…
Só penso como estas expressões serão entendidas por uma boa fatia da sociedade portuguesa, envelhecida, analfabeta, muitas vezes aldeãos esquecidos numa província cada vez mais longínqua das grandes cidades litorais onde a “civilização” acontece glamorosamente com halloweens, black Fridays/weeks, marginalizando, criando fossos, insistindo num progresso que ignora continuamente a sua língua materna e promove um país a duas velocidades.
Quando teremos direito a uma “Sexta-feira Negra”?
1 Black Friday é o nome usado pelos comerciantes para indicar o período de maior faturamento, conhecido por ser o dia que dá início à temporada de compras de Natal, em que os descontos oferecidos são muitas vezes considerados mais atrativos do que os natalinos.
É a sexta-feira seguinte ao Dia de Ação de Graças nos Estados Unidos.