«(...) Nos últimos programas de Governo a criação da marca lusófona tem estado sempre presente. Mas, até hoje, estar nos programas de Governo não foi suficiente para ver a luz do dia.»
É indiscutível que Portugal deverá apostar no reforço do espaço da lusofonia. Será, porventura, dos desígnios mais abrangentes e unânimes no Portugal de hoje.
Mas esta aposta tem de ter presente o valor económico da língua no contexto da geografia onde é falada. Significa isto que não podemos olhar para a lusofonia apenas como um desígnio histórico, cultural ou político. Temos de perceber que estamos perante um espaço económico com enorme margem de progressão, um espaço económico que pode fazer a diferença para muitas empresas.
Um espaço económico forte, um mercado aberto e livre, implica diferentes valências, capacidades e sinergias. Destaco a questão da marca.
Quando uma empresa aposta num mercado, tem de ter garantia de que o seu investimento, a sua presença estão devidamente salvaguardados. Tem de ter a confiança que a sua marca é mesmo sua, está protegida e pode ser oponível.
Um mercado comum significa uma marca comum. É assim na Europa, como é, cada vez mais, em espaços económicos que se vão lançando, um pouco por todo o Mundo.
Hoje, a lusofonia é vista como um espaço económico primordial para muitas empresas. As empresas já estão no terreno. Importa dar-lhes as ferramentas mais úteis.
Nos últimos programas de Governo a criação da marca lusófona tem estado sempre presente. Mas, até hoje, estar nos programas de Governo não foi suficiente para ver a luz do dia.
Do ponto de vista técnico, muito trabalho foi feito. No início de 2013, representantes das instituições nacionais competentes de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste acordaram os princípios que iriam reger a criação e o sistema da Marca Lusófona.
Com o sistema proposto, será possível uma empresa efectuar um único pedido de registo de marca junto da organização que irá gerir a marca lusófona. Será essa organização que fará o exame formal e elaborará parecer sobre eventuais obstáculos.
Ultrapassada esta fase, o pedido de registo será publicado nos boletins nacionais de cada país, correndo prazo para eventuais oposições por qualquer terceiro interessado. Após esta fase, o compromisso é o de que, no prazo máximo de 9 meses, o pedido será objecto de decisão, de acordo com a legislação de cada país.
Com este sistema, todos os queiram actuar no espaço lusófono poderão obter um registo de marca válido em sete países, de uma forma mais célere, económica e menos burocrática. Teremos um registo de marca para 7 países, em vez de 7 registos nacionais.
Este sistema irá representar um progresso significativo na atractividade dos respectivos mercados, para inúmeras empresas, sejam nacionais desses países, sejam estrangeiras.
Mas, existindo, há mais de 3 anos, acordo técnico, o que falta?
Falta vontade política. Falta coordenação diplomática. Falta actuação governamental.
Compete agora ao poder político saber valorizar e concretizar o que está feito do ponto de vista técnico.
Mais uma vez a marca lusófona aparece como um objectivo no programa do Governo.
Exige-se que o Governo, ou, melhor, o Estado Português, faça o esforço junto dos restantes países para se passar das palavras aos actos, reforçando o potencial económico do espaço da Lusofonia.
Para que a lusofonia não se fique só pelos discursos, palavras, intenções e simbolismos.
E para que a lusofonia deixe a sua marca. A marca lusófona.
Texto transcrito do jornal Público no dia 18 de maio de 2016.