O presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa dá agora o alerta para a ausência de um vocabulário comum — uma notícia da Lusa.
«Ainda não foi elaborado o vocabulário — uma listagem das palavras da língua portuguesa — e não pode haver um Acordo sem esse vocabulário, no qual entram as contribuições de Portugal mas também dos outros países de língua portuguesa», afirmou Artur Anselmo, alertando que «esse processo é demorado».
O Acordo Ortográfico envolve Portugal, o Brasil, os países africanos de língua oficial portuguesa, Timor, que não foi signatário do acordo em 1990 por não ser então um país independente, e a Galiza, porque o galego é uma variante do português antigo.
«Neste momento, tanto quanto sei, os brasileiros têm o vocabulário pronto, e os galegos também, mas não sei o que se passa nos países africanos e em Timor», acrescentou o filólogo, segundo quem, em Portugal, «o Governo não tomou posição nenhuma, não encarregou ninguém, nem a Academia das Ciências», dessa tarefa.
Afirmando-se preocupado, «porque sem vocabulário não haverá acordo», Artur Anselmo disse à Lusa que «o Governo tem de tomar uma posição».
«Em 1945 era fácil: havia o Ministério da Educação, tanto em Portugal como no Brasil, e o dr. [José] Caeiro da Mata, ministro da Educação português, negociou com o dr. Gustavo Capanema, que era ministro da Educação no Brasil, e foi fácil, apesar de serem dois governos autoritários. Veja-se como é difícil, agora, negociar em democracia...», ponderou.
Segundo o investigador da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal «intervêm, ou deveriam intervir, neste assunto, o Ministério da Educação, o Ministério da Cultura e o Ministério da Ciência e da Tecnologia», e «o normal seria que os três ministros se entendessem e que o Governo dissesse: "para elaboração do vocabulário é nomeada esta comissão..."».
Na ausência desse instrumento, «em rigor, as pessoas não poderiam aplicar já o Acordo Ortográfico», assinalou Artur Anselmo, acrescentando que, todavia, são livres de o fazer.
Lusa, 16 de Março de 2009