Com o novo Acordo Ortográfico já ratificado pelo Governo [português] chega às bancas, em tempo recorde, o primeiro dicionário conforme as novas regras ortográficas do português — Universal, Novo Dicionário da Língua Portuguesa (Ed. Texto). Porém, e tal como tem acontecido com o acordo até agora, as opiniões em relação a este produto editorial dividem-se.
«No preâmbulo do Acordo Ortográfico aparece como determinante que até dois anos antes da entrada em vigor do mesmo fosse feito um vocabulário comum para os países lusófonos», disse ao SolJosé Mário Costa, coordenador editorial do site Ciberdúvidas. «É este vocabulário que deve servir de ‘bíblia’ a tudo o que venha a ser feito em termos de dicionários e glossários». Por isso, para Costa, que garante ser a favor do acordo, o surgimento deste dicionário «é no mínimo precipitado. Há uma série de palavras em que ainda há dúvidas relativamente à grafia».
Segundo a responsável editorial dos dicionários da Texto, Paula Espinha, esta «é uma tarefa editorial que não colide com a tarefa científica que a Academia [de Ciencias de Lisboa] deve levar a cabo». Ou seja, o dicionário pode existir antes da criação do vocabulário, ainda que Espinha considere importante que também esse trabalho seja feito. «Mas, se fôssemos estar à espera que isso acontecesse, não havia nenhum dicionário neste país».
A publicação nesta altura terá sido até fruto de uma feliz coincidência. «Eu não inventei um dicionário para o acordo ortográfico. Já tinha começado a revisão do volume anterior, com o objectivo de o refrescar e de o aumentar. E como isso representa um enorme esforço, pensámos que valia a pena matar o maior número de coelhos possível com esta cajadada». Na prática, o trabalho decorre há mais de um ano e meio.
Paula Espinha sublinha ter consciência de que este é um passo pioneiro, vulnerável a críticas, mas que é uma necessidade do mercado.
«Em Portugal, infelizmente, o que falta mesmo é uma autoridade dinâmica e atenta para a língua», afirma José Mário Costa. E, pelo menos nesse aspecto, as duas partes não parecem discordar.
Notícia publicada no semanário Sol de 21 de Março de 2008, sob o título original Do acordo para o dicionário