Após três adiamentos em Conselho de Ministros [português], foi finalmente ratificado o novo Acordo Ortográfico que permite, segundo o especialista da língua João Malaca Casteleiro, «unificar o vocabulário geral em 98% dos casos». A decisão, que estava iminente desde o final de 2007, foi tomada no momento em que o Presidente da República [de Portugal] e o ministro da Cultura estão em visita oficial ao Brasil.
Silvas Filho, da Sociedade da Língua Portuguesa, disse ao “Sol” ter «a impressão de que tudo se precipitou por causa da ida do Presidente Cavaco Silva ao Brasil. Com certeza que tinha de levar alguma coisa "para oferecer" e levou isto. Mas tinha de acontecer, mais cedo ou mais tarde, sob o risco de ficarmos isolados. Assim temos uma língua portuguesa planetária, digamos, uma língua das oito pátrias». Acerca das mudanças que o acordo implica, Silvas Filho acrescenta: «Aquilo que realmente muda — que é acabarem as consoantes mudas — já está acordado com o Brasil desde 1931. Portanto, não se trata de uma cedência, trata-se de cumprir com o acordo que tinha sido feito».
A ratificação do tratado, não terá, no entanto, efeitos práticos imediatos. Por um lado, a decisão terá de ser aprovada em Assembleia da República, o que poderá demorar ainda alguns meses; por outro, haverá um período de adaptação de seis anos. Para Mário Mendão, consultor jurídico da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), importa «desdramatizar»: «Não estamos a falar de uma polícia dos erros ortográficos. Ninguém vai multar uma pessoa por escrever mal as palavras. A ideia é as novas regras irem-se instituindo aos poucos». E quanto aos custos, muito temidos pelas editoras, diz com alguma ironia:
«Custos haverá certamente, mas não serão nenhuma ponte, nem TGV, nem aeroporto».
O próximo passo, segundo Silvas Filho, é levar os especialistas a «sentarem-se à volta da mesa» para definirem o vocabulário comum da língua portuguesa. «O que acontece é que os brasileiros já têm um vocabulário comum com 350 mil entradas que publicaram em 1998. E nós publicámos o Dicionário da Academia com 70 mil entradas. Estamos muito atrasados».
notícia do semanário Sol de 8 de Março de 2008