Assinalando os dez anos da morte de Sophia de Mello Breyner Andresen e o 40.º aniversário do 25 de Abril, são trasladados nesta data os restos mortais desta poetisa* portuguesa para o Panteão Nacional, em Lisboa. A decisão de conceder-lhe «honras de Panteão Nacional» decorreu de uma resolução do parlamento português, aprovada em 20 de fevereiro de 2014, no intuito de «[homenagear] a escritora universal, a mulher digna, a cidadã corajosa, a portuguesa insigne, e [evocar] o seu exemplo de fidelidade aos valores da liberdade e da justiça que nos devem inspirar como comunidade e projetar como País» (Resolução da Assembleia da República n.º 17/2014).
Na evocação deste dia, transcrevemos este belo poema de Sophia (igualmente incluído num conjunto de outros da mesma autora, na Antologia):
Breve encontro
Este é o amor das palavras demoradas
Moradas habitadas
Nelas mora
Em memória e demora
O nosso breve encontro com a vida.
* Tradicionalmente, poetisa é a forma do género feminino que corresponde a poeta (cf. Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, Lisboa, Edições João Sá da Costa, 1984, pág. 198, e Evanildo Bechara, Moderna Gramática Portuguesa, Rio de Janeiro, Editora Lucerna, 2002, pág. 136). No entanto, certas figuras do meio literário português têm reivindicado o uso de poeta como substantivo comum de dois («o/a poeta»). Refira-se ainda que se regista, pelo menos, na variedade brasileira, preferência significativa pelo uso da forma poeta nos dois géneros (cf. Maria Helena de Moura Neves, Guia de Uso do Português, São Paulo, Editora UNESP, 2003, pág. 603). Cf. "Poetisa" inferioriza?
Pode um texto escrito definir o momento em que surge uma língua? E, atualmente, como idioma comum a oito países, em diferentes continentes, será possível conciliar a diversidade e a coesão do português? São estas algumas das questões que, no centro ou à margem das comemorações dos 800 anos do testamento de D. Afonso II, parecem estar subjacentes aos artigos neste dia divulgados em duas rubricas de O Português na 1.ª Pessoa. Assim, em Controvérsias, Maria José Maya, presidente da 8 Séculos de Língua Portuguesa-Associação, lembra que a língua portuguesa tem mais de 800 anos, enquanto Ivo Castro, em entrevista concedida ao mensário JL, vê as comemorações como uma «iniciativa diletante». Em Lusofonias, o deputado José Ribeiro e Castro, promotor do Manifesto 2014, realça o significado da celebração da efeméride, e Gilvan Müller de Oliveira, diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), entende-a como reforço simbólico da cooperação lusófona; na mesma rubrica, um artigo de Carlos Reis propõe uma reflexão sobre a contemporaneidade da língua, marcada pela diversidade e pela necessidade de coesão.
Ainda na presente atualização, Paulo J. S. Barata comenta um caso de falta de siso ortográfico numa página de jornal – é no Pelourinho.
O programa Língua de Todos de sexta-feira, 4 de julho (às 13h15* na RDP África; com repetição aos sábados, depois do noticiário das 9h00*), interroga a professora Irene Mendes: estará a nascer uma variedade moçambicana da língua portuguesa? O Páginas de Português de domingo, 6 de julho (às 17h00* na Antena 2), entrevista o deputado português José Ribeiro e Castro, sobre o Manifesto 2014, e António Carlos Sartini, diretor do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, acerca de uma nova exposição interativa em homenagem a Eça de Queirós.
* Hora oficial de Portugal continental.
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