Ciclicamente, o sítio do Ciberdúvidas (consultório e publicação regular de textos) sofre, de uma maneira mais ou menos gravosa, de falta de financiamento que permita pagar, condignamente, a todos os seus colaboradores: consultores, revisor, secretário, técnico informático. É assim agora, foi assim no passado. Assinalamos neste dia o editorial do jornal i, que faz o ponto da situação sobre o estado atual do serviço Ciberdúvidas.
Metas Curriculares de Português – 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico em Portugal, documento colocado já anteriormente no portal do Ministério da Educação, encontra-se em consulta pública. Aqui.
Apela-se nele para a participação de representantes das sociedades científicas, associações profissionais de professores, conselhos de escolas, autores de programas, consultores e editoras na proposta de metas curriculares do ensino básico para as disciplinas de Português, Matemática, Educação Visual, Educação Tecnológica e Tecnologias da Informação e Comunicação. Para que depois não circulem só queixas.
O brilhante desempenho da atleta portuguesa Dulce Félix nos campeonatos europeus de atletismo de 2012, realizados em Helsínquia – medalha de ouro na prova dos 10 mil metros* –, não teve a melhor correspondência por quantos, na rádio e na televisão nacionais, voltaram ao anómalo "Féliks". Uma boa razão, por isso, para recordarmos porque devemos dizer a última sílaba do nome Félix como dizemos na palavra feliz. A explicação da professora Maria Regina Rocha neste apontamento, transcrito na rubrica Pelourinho.
* 10 mil metros, por extenso, ou, se grafado numericamente, 10 000m (sem pontos).
«A língua portuguesa e eu somos um casal de amantes que, juntos, procriam apaixonadamente» (João Guimarães Rosa).
«Decerto que eu amava a língua. Apenas não a amo como a mãe severa, mas como a bela amante e companheira» (in Carta a João Condé, de Guimarães Rosa).
Minha pátria, minha línguaPequenos excertos de declarações de amor de dois escritores de países diferentes, mas cúmplices no mesmo sentimento de entrega ao idioma que os une — a língua portuguesa —, testemunhos literários que se assinalam na Antologia, a rubrica onde se encontram os textos dos grandes autores à roda da língua-mãe.
O facto de falir ser um verbo defetivo permite jogar com os sentidos da particularidade da sua conjugação e relacioná-los com a crise económica portuguesa. É o que explora a crónica do humorista português Ricardo Araújo Pereira, publicada em O Nosso Idioma.
A consciência da pluralidade de variantes no domínio do léxico, da grafia e da pronúncia não leva os falantes atentos à língua a negligenciarem o cuidado com a legitimidade de cada uma das formas que o uso pode ter vulgarizado.
Por exemplo, como se designam os praticantes da modalidade de BTT (bicicleta todo-o-terreno)? Escreve-se “nebulado”, nublado, ou ambas as formas estão legitimadas? O que significa a expressão «(em) roda livre»? E deve pronunciar-se a palavra mestrado com o e aberto, ou fechado? Estes são os temas das quatro novas respostas deste dia.
O uso da língua implica o respeito pela norma, de forma a que a comunicação se torne transparente e compreendida de imediato pelo outro. Excetuam-se os casos em que o discurso foge ao comum, entrando no domínio da arte. Aí sobressai a beleza de uma linguagem repleta de códigos, cujos sentidos se têm de desvendar. São textos que gozam da licença poética, estatuto da sensibilidade privilegiado dos escritores e dos poetas.
As duas novas respostas deste dia têm como objeto textos literários, fruto de estudos, cuja interpretação e sintaxe ganham complexidade.
«Nos últimos anos, [em Portugal,] a língua beneficiou apenas de dois acontecimentos. O primeiro foi um daqueles achados que saltam gerações: Ricardo Araújo Pereira, um humorista que não escreve apenas “bem”, mas faz com a língua o que outros não conseguem fazer com o sexo. O segundo foi o Ciberdúvidas, um reduto de civilização que juntava utentes e especialistas da língua, onde se podia discutir o uso de “espoletar/despoletar” ignorando o colapso financeiro da Europa. Não erro o tempo dos verbos, porque não é certo que o Ciberdúvidas sobreviva a mais uma crise de patrocínios. Seria incompreensível que ninguém lhe renovasse os trocos. E seria desejável que alguma fundação colhesse os louros fáceis de um financiamento mais generoso, para que o Ciberdúvidas retirasse o Português da coutada das Humanidades e nos trouxesse os contributos das ciências: a gramática inata, as línguas e a genética de populações, os palavrões à luz da psicologia evolutiva, o estilo dos heterónimos de Pessoa destrinçado por métodos quantitativos, etc.»
[Excerto do artigo de Vasco Barreto, investigador da Fundação Gulbenkian de Ciência, publicado no jornal i de 25/06/2012, e transcrito na íntegra na rubrica O Nosso Idioma.]
Das quatro novas respostas, ainda em atraso, sobressai o tema das variantes com que nos confrontamos constantemente, sinal da diversidade das realidades linguísticas do Brasil e de Portugal. O contacto com termos/expressões diferentes gera estranheza nos falantes da mesma língua de um e do outro lado do Atlântico, questionado-se sobre a legitimidade de formas como: enquete e inquérito, treinamento e treino, todo (o) mundo e toda a gente, zonamento, zoneamento e zonagem.
Em tempos de crise económica, não é por acaso a preocupação com a grafia nos valores monetários.
A possibilidade de ratificação do Acordo Ortográfico de 1990 por Moçambique e as formalidades, nesse sentido, por parte do governo angolano são o tema desta semana do programa Língua de Todos (de sexta-feira, dia 22, na RDP África, às 13h15*; com repetição no dia seguinte, às 09h15*).
Por sua vez, a emissão de domingo, dia 24, de Páginas de Português (às 17h00*, na Antena 2) gira à roda de uma conversa com o investigador da Priberam e do Instituto Superior Técnico André Martins, distinguido com o Prémio Científico IBM, pelo trabalho desenvolvido no âmbito do processamento computacional da língua.
* Hora oficial de Portugal.
Este é um espaço de esclarecimento, informação, debate e promoção da língua portuguesa, numa perspetiva de afirmação dos valores culturais dos oito países de língua oficial portuguesa, fundado em 1997. Na diversidade de todos, o mesmo mar por onde navegamos e nos reconhecemos.
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