Ninguém deve negar ao discurso especializado o direito a criar e usar termos que permitam referir com exatidão as realidades e as noções que definem um domínio de atividade técnica ou científica. Porém, quando chega o momento de falar para todos, incluindo os leigos na matéria, já a linguagem tem de ser outra, sem cedências ao pedantismo. Na rubrica Pelourinho transcreve-se o reparo que o comentador e político português Daniel Oliveira fez no semanário Expresso em 11/12/2014, a respeito dos anglicismos que, em Portugal, tornam incompreensíveis para a maioria dos cidadãos as sessões da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo Espírito Santo (o chamado «caso BES»)1. No entanto, a sedução pelo estrangeirismo anglo-saxónico não é coisa dos nossos tempos, porque, como revela uma nova resposta do consultório, sabemos que já na primeira metade do século XIX o escritor Almeida Garrett (1799-1854) distorcia a morfologia latina com uma criação do idioma de Shakespeare. As dúvidas desta atualização abrangem ainda outros tópicos: os usos gramaticais do verbo ter; a classe de palavras de pouco; o significado de adicionalmente; e a associação de cada a uma expressão nominal no plural.
1 Sobre este mesmo assunto relacionado com as audições na Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do BES e do GES – o excesso de anglicismos e a linguagem eivada de tecnicismos do chamado economês, inacessíveis ao cidadão comum –, como aqui já se chamou a atenção, a deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua criou um blogue com este propósito específico: o de descodificar o que aí se vai dizendo em... português que se entenda.
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