O termo inglês logodaedalus provém do grego λογοδαίδαλος, nome com que Platão, no célebre diálogo Fedro, pela boca de Sócrates, descreve ironicamente o sofista Teodoro de Bizâncio. Este vocábulo grego é composto de λόγος («palavra») e δαίδαλος («trabalhado com arte»), adjetivo que, tornado antropónimo (Δαίδαλος), designa a lendária figura de Dédalo, notável arquiteto, inventor e escultor ateniense. O termo empregado por Platão refere-se, portanto, a alguém que usa da palavra com a mesma habilidade e perícia com que Dédalo manuseava o metal e outros materiais que transformava em obras de arte.
Não encontro o vocábulo logodédalo em dicionários portugueses, nem a respetiva forma latina (logodædalus) em léxicos latinos, mas isso não significa que não se possa usar, pois está corretamente formado e até ostenta um “parente” dicionarizado. Trata-se de logodedália, que significa, segundo o Dicionário Houaiss, «afetação do estilo ou da linguagem». Este vocábulo provém do grego λογοδαιδαλία, que se refere à arte de adornar um discurso. Ou seja, a logodedália é a arte do logodédalo.
Aliás, se virmos bem as coisas, até seria conveniente darmos foros de cidadania a este vocábulo grego, pois torna-se difícil, recorrendo a termos lusos ou de outras línguas, traduzir com precisão a ideia que veicula. Prova disso é a disparidade de traduções de λογοδαίδαλος que aparecem nas diversas versões do Fedro que pude consultar. Eis alguns exemplos.
Numa versão portuguesa, da autoria de Humberto Petrelli, o termo é traduzido por «o Dédalo dos discursos». Numa tradução espanhola, já antiga (1872), da autoria de Patricio de Azcárate, Teodoro é un entendido discursista. Numa versão francesa, da autoria de Victor Cousin, trata-se de le grand ouvrier en discours. Numa tradução italiana, da autoria de Francesco Acri, o vocábulo grego é vertido por eccellentissimo Dedalo dell´oratoria. Numa tradução inglesa, publicada em 1925, da autoria de Harold N. Fowler, fala-se em that most excellent artist in words. Numa versão alemã, dada à estampa em 1853, da autoria de Ludwig Georgii, o vocábulo helénico é traduzido por Daidalos im Reden («Dédalo nos discursos»). Numa versão em neerlandês, Teodoro passa a ser die briljante woordkunstenaar («o brilhante artista das palavras»). Finalmente, numa tradução polaca, o termo é traduzido por nieoceniony majster mów («inestimável mestre dos discursos»).
Perante tal disparidade de soluções, parece-me tentador lançar este cultismo, sobretudo quando, no momento em que se escreve este texto, estamos em plena campanha eleitoral (eleições para o Parlamento Europeu de 25 de maio de 2014), altura em que, invariavelmente, as ruas e mercados das nossas urbes se tornam o palco preferido de tantos “logodédalos” à caça de votos...