O uso de o qual como determinante é um arcaísmo.
A Gramática do Português (2013, págs. 2095/296), da Fundação Calouste Gulbenkian, descreve esse uso do seguinte modo:
«[...] Em fases anteriores da língua, o qual apresentava dois padrões sintáticos distintos em orações relativas de nome: num deles, o qual era equivalente a um sintagma nominal, como em português contemporâneo (cf. o professor elogiou muito o Rui, o qual teve 20 no teste; o qual = o Rui); no outro, funcionava como um determinante explícito, precedendo um grupo nominal dentro do constituinte relativo, geralmente idêntico ao grupo nominal antecedente (ou a parte dele), mas podendo também ser um sinónimo ou um hiperónimo deste. Estes dois usos exemplificam-se, respetivamente, em (ia) e (ib) [...]:[*]
(i) a. E pedia q(ue) p(er) Sen(ten)ça o cost(re)ngese q(ue) lhj dese a d(i)ta vaca cõ sua ffilha segu~do mays conp(ri)dam(en)t(e) Era (con)tehudo e~ sua petiçom a q(u)al ffoy contestada p(er) o d(i)to p(ri)oll [...]
b. Asy diserom q(ue) os di(c)t(os) logares danboores (e) mõte valem todo onze m(a)r(avedi)s da boa moeda cõ ho di(c)to monte os q(u)aes logares danboroes p(ar)tem cõ erdade darouqua (e) cu~ erdade do di(c)to Johã de basto (e) cõ erdade de v(asco) m(art)iz [...]
No entanto, alguns autores [...] registam o uso como determinante explícito em orações relativas apositivas, como as de (ii) [...]:
(ii) a. A falta de monitores na Faculdade de Direito de Lisboa não permitiu ainda que começassem as aulas das subturmas, as quais aulas funcionam em regime de avaliação contínua de conhecimentos.
b. Ao livro ninguém fez referência, o qual livro merece a maior consideração, no meu entender.
Estas construções parecem arcaicas à maioria dos falantes do português, estando limitado o seu uso a contextos literários ou a registos de grande formalidade [...].»
[*] Trata-se da transcrição de versões que contêm parênteses para assinalar segmentos e sílabas que foram abreviados nos documentos originais.