Infelizmente, «o famoso gramático Napoleão Mendes» deve ter saltado a leitura de um ainda mais famoso estudioso da língua, Antenor Nascentes, que já em 1958, quando iniciou a organização do primeiro mapa dialetológico brasileiro, apontava para duas grandes áreas dialetológicas no Brasil que se fazem representar pela execução dos fonemas /e/ e /o/ em posição pretônica. No Norte, essas vogais soam abertas, e no sul, fechadas. A título informativo, Castilho, 2010, clarifica o que se entende como Norte e Sul do Brasil em termos de fala e ratifica, cinco décadas depois, as afirmações de Nascentes sobre a pronúncia das vogais átonas pretônicas. «O falar do Norte compreende dois subfalares, o amazônico e o nordestino. O falar do Sul compreende quatro subfalares: o baiano, o mineiro, o fluminense e o sulista.»
Há, porém, uma observação que me parece necessária quando se trata de dialetologia, ou seja, do estudo das variedades geográficas de uma língua. Por um lado, a língua, como fato social, é passível de distinções conforme os grupos de falantes observados, por outro lado, por mais que cada grupo assevere que é o seu modo de falar o mais agradável ao ouvido, isso será sempre uma questão subjetiva e psicológica. As pessoas classificam de feio ou bonito segundo a sua própria miopia ou experiência. Em geral, quem tem menos experiência e visão mais limitada é quem é mais crítico com o outro, incapaz de medir a sua própria ignorância.
Haveria muitas questões a considerar se fôssemos comentar conceitos de erro, variantes fonológicas e variedades geográficas do português do Brasil. Para não alongar demasiado uma resposta que se quer breve e direta, recomendo ao consulente que siga usando os seus sonoros /e/ e /o/ pretônico que encantam a plateia e identificam tão bem os oriundos de uma região interessantíssima como o Nordeste. Não há incorreção alguma nessa pronúncia, nem desvio relativamente a qualquer regra de articulação de palavras em português. Para um aprofundamento com exercícios e descrição técnica, recomendo Callou & Leite, 1990, e Silva, 2003.
Referências:
Castilho, Ataliba. Nova Gramática do Português Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2010.
Silva, Thais C. Fonética e Fonologia do Português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2003.
Callou, Dinah & Leite, Yvone. Iniciação à Fonética e à Fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.