A forma -logo é um «sufixo nominal, de origem grega, que traduz a ideia de estudioso, especialista (craniólogo, metodólogo)» (Infopédia); «especialista» é «que ou quem se especializou em determinada área do saber ou sabe muito sobre determinada coisa = perito» (Priberam).
Deste modo, se, por exemplo, um sociólogo é um «especialista em sociologia», e um psicólogo é um «especialista em psicologia», um tudólogo será um «especialista em tudo». Ora, esta definição parece-me levantar alguns problemas semânticos, pois é manifesto o elevado grau de incompatibilidade entre os conceitos especialista e tudo, isto é, como é possível um especialista, tendo em conta até a definição transcrita, ser «especialista em tudo»? Assim, apesar de compreender o mecanismo de formação utilizado na construção do referido vocábulo, parece-me que, do ponto de vista semântico, tudólogo terá fracas possibilidades de sobrevivência na língua portuguesa.
Porém, como o prezado consulente bem nota, uma breve pesquisa via Google prova que o termo em análise é bastas vezes utilizado, na maior parte das vezes de forma ir{#ó|ô}nica e com o recurso a aspas, em blogues e até em jornais portugueses de referência. Este artigo de Eduardo Cintra Torres, publicado no jornal Público, em 3 de Dezembro de 2010, é disso exemplo. Note-se, no entanto, que, neste caso, o termo tudólogo é utilizado num contexto muito concreto, em que o famoso crítico tece algumas considerações a propósito do livro francês Les éditocrates («Os editocratas»), transpondo, de forma sarcástica, algumas das reflexões e termos veiculados na referida obra para a realidade portuguesa, tendo, contudo, o cuidado de explicar que «o conceito de tudólogo [do francês «toutologue»] refere ironicamente um suposto conhecimento universal». Ainda que nenhum dos dicionários franceses de referência consultados (Petit Robert e Larousse) ateste a existência do vocábulo francês toutologue, o Dictionnaire du journalisme et des médias («Dicionário do jornalismo e dos media»), de Jacques Le Bohec (Presses Universitaires de Rennes, 2010), apresenta uma proposta de definição do termo: «Toutologue (n. m.) Chroniqueur ou expert spécialiste en tous domaines, le plus souvent de manière prétentieuse. L'important pour eux est d'exprimer leurs jugements politiques. Etymologie: le mot italien tuttologo.»1 De fa{#c|}to, o dicionário italiano em linha Sapere confirma a existência, na língua italiana, do termo tuttologo: «n. m. [f. -a; pl.m. -ghi o -gi, f. -ghe] ( iron.) chi scrive di tutto o si esprime pubblicamente su tutto Comp. di tutto e -logo.»2 Repare-se que, mesmo na definição constante no citado dicionário italiano, é expressamente referido que este é um termo usado com intuito irónico.
Em jeito de conclusão, direi o seguinte: compreendo o mecanismo (legítimo) de formação de palavras portuguesas que levou à criação do vocábulo tudólogo; compreendo o seu uso irónico, pejorativo ou jocoso, mas reafirmo que, semanticamente, pelas razões expostas, a sua utilização é, no mínimo, duvidosa, ou até inviável.
1 Tradução livre: «Tudólogo: Cronista ou perito especialista em todos os domínios, na maior parte das vezes de forma pretensiosa (adoptando, na maior parte das vezes uma postura pretensiosa). O importante, para eles, é exprimir as suas opiniões políticas. Etimologia: palavra italiana tuttologo.
2 Tradução livre: «(irónico) que escreve sobre tudo ou se exprime publicamente sobre tudo; composto por tudo + -logo.»
N.E. — Todólogo, em castelhano