Tem razão, nem sempre o predicado concorda com o sujeito: casos há em que a concordância se faz entre o predicado e o nome predicativo. As gramáticas registam alguns, usados tanto na linguagem familiar como na literária: «um dia não são dias», «o resto são cantigas», «o que importa são as pessoas», «tudo eram dificuldades». Lindley Cintra e Celso Cunha chamam mesmo a atenção para o efeito estilístico provocado pelo contraste de concordância no seguinte passo de Camilo Castelo Branco: «Há neles muita lágrima, e o que não é lágrimas são algemas.»
Além dos efeitos estilísticos, as discordâncias de que falamos correspondem à tendência natural de destacar como sujeito a palavra que traduz o conceito mais em evidência. Em «Cinco mil contos é dinheiro», o que se destaca, e isola de certo modo, é a quantia, os cinco mil contos, sujeito da oração.
Não se trata, pois, de erros de sintaxe, mas de recursos da língua que tornam mais rigorosa a expressão do pensamento.