Parece-me ser de aceitar a frase apresentada: «O ex-casal Nicole Kidman e Tom Cruise contracenam juntos num episódio.»
O sujeito dessa frase é «O ex-casal Nicole Kidman e Tom Cruise», em que o nome colectivo «ex-casal» é o núcleo do sujeito e «Nicole Kidman e Tom Cruise» o aposto.
Ora, na língua portuguesa não faltam exemplos de frases em que o verbo pode não concordar com o núcleo do sujeito, podendo ser atraído para uma concordância com os outros elementos que dele fazem parte.
São exemplos disso, tirados de gramáticas de referência, as seguintes expressões:
«A maior parte destes quartos não tinham tecto, nem portas, nem pavimento.»
«Ainda quando a autoridade paterna e materna fossem delegadas...»
Há uma concordância que se processa no espírito do falante, em que a noção de plural se sobrepõe à lógica gramatical, e que leva a construções deste tipo, também reguladas gramaticalmente, como é o caso dos exemplos apresentados.
A frase em apreço pode justificar-se por concordância ideológica – a que os gramáticos chamam silepse - que se faz não com a forma gramatical das palavras, mas com o sentido, com a ideia que elas expressam.
A silepse pode ocorrer, por exemplo, com um substantivo singular concebido como plural e, particularmente, com os nomes colectivos/coletivos (cf. Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra).
Se se quiser fazer o acordo com o núcleo do sujeito, então a construção será: «O ex-casal Nicole Kidman e Tom Cruise contracena junto num episódio.»