Compreendo o seu argumento, mas o Acordo Ortográfico integra o k no alfabeto português, com as restrições que sobre essa letra recaíam no passado. Com efeito, no tocante às letras k, w e y vale a pena comparar o Acordo Ortográfico de 1945 (AO 1945) e o Acordo Ortográfico de 1990 (AO 1990):
AO 1945, Base II:
«1.º O k, o w e o y mantêm-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros que se escrevam com essas letras: frankliniano, kantismo; darwinismo, wagneriano; byroniano, taylorista. Não é lícito, portanto, em tais derivados, que o k, o w e o y sejam substituídos por letras vernáculas equivalentes: cantismo, daruinismo, baironiano, etc.
2.º Em congruência com a base anterior, mantêm-se nos vocábulos derivados eruditamente de nomes próprios estrangeiros, não tolerando substituição, quaisquer combinações gráficas não peculiares à nossa escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia, de Jefferson; mülleriano, de Müller; shakespeariano, de Shakespeare.»
AO 1990, Base I:
«2.º As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:
a) Em antropónimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin, frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista;
b) Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza, Kuwait, kuwaitiano; Malawi, malawiano;
c) Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso internacional: TWA, KLM; K – potássio (de kalium), W – oeste (West); kg – quilograma, km – quilómetro, kW – kilowatt, yd – jarda (yard); Watt.»
Concluo que, em matéria de topónimos, a letra k ocorre só em formas estrangeiras e derivados. Nos derivados é possível a coocorrência de k com sequências gráficas conformes ao padrão ortográfico. É, portanto, duvidosa uma forma gráfica híbrida como "Kinchassa", que conjuga com os dígrafos tipicamente portugueses ch e ss, porque k é ainda uma letra característica de grafias estrangeiras.
Mas, como disse, considero pertinente a observação feita. Se k, w e y fazem parte do alfabeto, é de esperar que em casos de contacto entre línguas se imponham estas letras a par das letras tradicionais: será esta a situação das variedades do português em África, que tenderão a acolher formas de origem banta, que certa tradição fixou com k, w e y, associando elementos morfológicos portugueses grafados da forma tradicional. Daí certas oscilações como Cuango/Kuango. Trata-se, portanto, de uma área em que é necessário definir um critério mais claro do que aquele formulado no actual acordo.