DÚVIDAS

Número, volume, metade e maioria: antecedentes do pronome relativo que

Li, no Ciberdúvidas, a seguinte mensagem:

«Em virtude do período de Páscoa, Ciberdúvidas só terá nova actualização no dia 9 de Abril. Até lá, pedimos a todos os consulentes que não nos enviem perguntas, até porque precisamos de uma pausa para tratar o grande volume de questões que nos têm chegado.»

Estranho o «que nos têm chegado» final.

Quem chegou: o «grande volume» ou «as questões»? Qual a pessoa correta: tem ou têm?

Penso na dualidade de frases análogas como:

A1: «A maioria das pessoas pensa assim.»

B1: «A maioria das pessoas pensam assim.»

A2: «Metade dos brasileiros gosta de cerveja.»

B2. «Metade dos brasileiros gostam de cerveja.»

A3: «Um grande volume de questões tem chegado a Ciberdúvidas.»

B3: «Um grande volume de questões têm chegado a Ciberdúvidas.»

No meu português, é sempre a alternativa A que está correta. Apreciaria seu parecer.

Obrigado.

Resposta

A observação que faz tem resposta semelhante à que demos a propósito do uso de número em «número de pessoas». A referência de que é ambígua, dada a possibilidade de tanto «volume» como «questões» constituírem o antecedente desse pronome relativo. Por outras palavras, «que tem chegado» e «que têm chegado» são sequências correctas.

Outra coisa é o uso de volume numa frase simples, isto é, numa frase sem orações subordinadas. Neste caso, o verbo concorda com o núcleo da expressão «volume de questões», ou seja, com volume (o asterisco indica que a frase não é aceitável):

(1)
(a) «O número de questões foi incalculável.»
(b) *«O número de questões foram incalculáveis.»

(2)
(a) «O volume de questões foi incalculável.»
(b) *«O volume de questões foram incalculáveis.»

Como se vê em (1) e (2), o verbo deve concordar sempre com os núcleos das expressões antecedentes, o mesmo é dizer os substantivos número e volume.

Assinale-se, porém, que com expressões cujo núcleo é preenchido por substantivos de valor fraccionário, como metade, não se verifica o mesmo comportamento, porque muitos gramáticos aceitam a concordância com o complemento determinante desses termos:

(3) «Metade dos brasileiros gosta/gostam de cerveja.»

Também no caso de maioria, muitos gramáticos defendem a possibilidade de o predicado concordar com o determinante:

(4) «A maioria das pessoas pensa/pensam assim.»

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