O que vai acontecer no Brasil é uma actualização da norma ortográfica, não uma alteração da gramática normativa. Língua e grafia estão a ser indevidamente confundidas na imprensa e em sites diversos.
A gramática normativa é um instrumento que regula o bom uso da língua. Por sua vez, a língua é um sistema convencional de signos duplos (compostos por significante e significado). Ora o significante é «aquilo que, ao realizar-se concretamente um acto de fala, é constituído pela cadeia de sons, de objectos físicos captados pelo ouvido e que se podem representar graficamente, pela escrita, registar numa banda magnética e sujeitar a análises materais num laboratório de fonética» (in CARVALHO, J. G. H. 1973 — Teoria da Linguagem, Tomo I, Coimbra, Atlântida: 156). Portanto, a grafia é apenas um mecanismo de registo de produções linguísticas, ao passo que a língua, que é visada na gramática normativa, corresponde ao sistema linguístico coincidente com a norma-padrão, independente de o tomarmos na sua manifestação oral ou escrita.