No provérbio «Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar», faz-se uma comparação entre o valor de um pássaro e o de dois. Em princípio, dois pássaros valem mais do que um, valem o dobro, como é lógico. Mas, se alguém tiver de escolher entre um pássaro que já tem preso na mão e a possibilidade de apanhar dois que ainda estão a voar, aconselha a prudência que escolha ficar com o que já possui (embora de menor valor) e não o entregue em troca da possibilidade de apanhar ou de caçar os dois que estão a voar, pois isso é incerto.
Deixando o significado literal e passando para a interpretação, para o que se pretende dizer, está aqui valorizado o seguro em relação ao inseguro, a segurança, a certeza em relação à incerteza, o facto em relação à hipótese, a realidade em relação à promessa. Com este provérbio pretende dizer-se que vale mais o que está seguro na nossa mão, embora de menor valor, do que algo melhor, mas que não é seguro e que pode ser apenas uma mera hipótese, um desejo não realizado: assim, não devemos trocar o certo pelo incerto.
Este provérbio pode ser utilizado em diversas situações. Três exemplos:
(1) Alguém que prefere ter o seu dinheiro numa conta que lhe dá um juro mais baixo mas certo, em vez de o aplicar em acções que podem valorizar o dobro, mas que também podem baixar (sendo incerto, portanto, o que acontecerá), poderá dizer que «mais vale um pássaro na mão do que dois a voar».
(2) Alguém que vende um apartamento por um valor que não era bem o que desejava, em vez de esperar que o mercado evolua positivamente, poderá dizer que «mais vale um pássaro na mão do que dois a voar». É que o mercado pode evoluir positivamente, mas também pode evoluir negativamente. O futuro é algo incerto.
(3) Alguém que prefere um emprego de remuneração mais baixa numa firma que lhe garanta um emprego de longa duração em vez de um emprego mais bem remunerado numa firma que pode encerrar a qualquer momento também poderá dizer que «mais vale um pássaro na mão do que dois a voar».
É claro que há sempre quem queira apanhar pássaros a voar, ou mesmo voar como eles, e goste de arriscar, mas isso já tem que ver com outro provérbio: «Quem não arrisca não petisca...»