Vou tentar fundamentar uma opção pessoal: Lisboa-Porto com hífen e sem espaços.
Dividamos a resposta em duas partes:
1 – Hífen ou travessão?
Como sabe Rui Ramos, prezado colaborador de Ciberdúvidas, o hífen é traço de união que se emprega, na escrita, para translinear palavras (daí o verbo hifenizar), assim como para ligar palavras compostas e formas verbais com pronomes enclíticos e mesoclíticos.
Ou seja: o hífen une dois elementos de uma palavra que se teve de partir no fim de uma linha; une compostos como, por exemplo, decreto-lei e muitos outros; e liga os vários elementos na conjugação pronominal, como, por exemplo, amá-lo, di-lo-á, dar-nos-á.
Digamos que o hífen se utiliza "dentro" das palavras. Não é, pois, sinal de pontuação.
Temos duas palavras em Lisboa-Porto, bem como nos outros exemplos que indica. Nem Lisboa-Porto nem os outros exemplos são em princípio palavras compostas, mas palavras circunstancialmente ligadas pela linguagem jornalística que, em vez de dizer «a viagem de Lisboa ao Porto», diz «a viagem Lisboa-Porto». Ou, em vez do jogo «entre o Sporting e o Farense», o jogo «Sporting-Farense». Ou, ainda, para não repetir a menção ao «encontro entre Bill Clinton e Tony Blair», o encontro «Clinton-Blair».
Tratando-se de ligação transitória de palavras e tendo função assindética, dever-se-ia empregar sinal de pontuação adequado: vírgula ou travessão...Mas também se pode defender – e eu defendo – o oposto: uma união, por transitória, não deixa de ser união, de mais a mais repetida todos os dias, em circunstâncias tão idênticas, que a tornam estereótipo. Nada parece obstar, portanto, a que se escreva Benfica-Sporting com hífen, nas circunstâncias aqui apresentadas. Não é uma palavra composta, mas, de certo modo, é como se o fosse.
E, em alguns casos, é-o. Quando dizemos: «a disputa entre aqueles dois parece um Benfica-Sporting», estamos a empregar uma palavra composta, substantivamos a união de duas palavras, damos a esta união um sentido preciso. Já não é mero jogo de bola entre dois clubes, mas o símbolo de rivalidade sem tréguas. Nenhuma dúvida se nos depara quanto à utilização do hífen.
2 – Com ou sem espaços?
Mesmo que esta exposição não esclareça todas as dúvidas sobre o uso do travessão ou do hífen nos casos apresentados, a opção quanto aos espaços deve subordinar-se às necessidades de clareza do texto.
Como se sabe, emprega-se muito o travessão como substituto dos parêntesis. Quando se utiliza o travessão para este efeito, e ao contrário do que acontece quanto aos parêntesis, deve existir sempre espaço equidistante (equivalente a um carácter ou a uma batida) entre o travessão e as palavras que ele separa ou salienta. Ora, se grafarmos «Lisboa – Porto» ou «Lisboa - Porto», com espaços, pode haver confusão. Pode parecer a abertura ou o fecho de um travessão com função de parêntesis. E o travessão, mesmo sem espaços, também pode levar a leitura menos "rápida", o que, tratando-se de jornais, não é despiciendo.
Note-se também: durante a maior parte do século XX, as máquinas de escrever e, mais recentemente, certos programas informáticos (alguns ainda a servir de base à composição de publicações) não disponibilizam o travessão. Este tem sido substituído pelo hífen, o que faz pensar erradamente no hífen como sinal de pontuação. Assim, muitos leitores, quando vêem hífen com espaços, pensam tratar-se de travessão, ou melhor: dizem que é um «tracinho».
Terminando: por tudo isto – repito –, não hesito em grafar: Benfica-Sporting, Lisboa-Porto, Clinton-Chirac. Com hífen e sem espaços.