A norma da língua portuguesa prevê que, em frases como a que está em análise, se a oração subordinante estiver, como é o caso, no imperfeito do indicativo, a subordinada deverá ter o verbo no imperfeito do conjuntivo, o que não acontece. Isto independentemente de estarmos ou não perante verbos compostos, como é também o caso nesta frase.
Estamos, pois, perante uma frase que foge à norma, isto é, que não deverá integrar um texto formal. Não nos parece, no entanto, que se trate de um vício de uma determinada gíria, no caso vertente a futebolística ou futebolês, nem de um regionalismo. Na verdade, quem nunca disse ou ouviu frases do tipo da que se segue?
(1) – «Olá, se tens vindo um bocadinho mais cedo, ainda falavas com o João.»
Num discurso mais coloquial, ou se quisermos menos formal, frases como (1) são perfeitamente aceitáveis e, até, frequentes. Note-se que o que se usa não é presente do indicativo, mas sim o pretérito perfeito composto do indicativo. Este tempo verbal apresenta uma característica que o singulariza, pois não designa, habitualmente, uma acção do passado, mas sim uma acção continuada ou repetida, que tem, todavia, início antes do acto enunciador, isto é, antes de se produzir o discurso onde este tempo verbal se integra.
Assim, quando alguém diz «tenho trabalhado muito» quer dizer que desde há já algum tempo tem vindo a trabalhar mais do que é costume. Estará esta ideia de acção continuada presente nas construções condicionais em que o pretérito perfeito composto substitui o imperfeito do conjuntivo? Parece-me que sim.
Na frase em análise o tempo de duração da possibilidade é exactamente igual ao tempo durante o qual os jogadores estiveram em acção.
Na frase (1) poderemos considerar que o tempo de realização da acção tem início quando a pessoa interpelada sai de casa e termina quando ouve esta frase. É claro que o imperfeito também veicula uma ideia de acção prolongada e, nesse caso, não haveria razão para não se optar pela forma canónica da expressão da condição. Há, todavia, a nosso ver, uma grande riqueza modalizadora do discurso no pretérito perfeito composto que é uma mais-valia no âmbito da expressividade que na frase em análise se pretende veicular.
Este tempo verbal aproxima a acção, tem um efeito semelhante ao que se verifica com o uso do presente histórico e que faz com que se transmita maior vivacidade a um relato que se quer dinâmico.
Neste caso, considerando que não estamos perante um texto de profunda exigência formal e sim perante um texto que, pelas suas características, se aproxima do coloquial, a fuga à norma é uma mais-valia no texto e não uma falha.
Note-se, aliás, que se trata de um excerto pleno de vivacidade e de estratégias modalizadoras. Repare-se na riqueza da perífrase verbal que constitui o verbo da oração subordinante: podia ter ficado decidida. O verbo principal é o verbo decidir, que está no particípio passado porque está conjugado com o auxiliar ficar, que lhe transmite uma ideia interessante de passividade, muito mais rica do que se se dissesse [tinha] sido decidida. Se ficado é o auxiliar de decidida, porque está, ele também, no particípio passado? Como auxiliar deveria ser ele a suportar as marcas de tempo e de pessoa. Mas não. Ele está no particípio, porque também tem, por sua vez, um auxiliar. Desta vez, um auxiliar de tempo composto ter.
Mas, se ter é um auxiliar, porque não tem marcas de pessoa e de número? É porque ele também tem um auxiliar: o verbo modalizador podia! Este sim, no início da perífrase, carregando as marcas de tempo, imperfeito do indicativo, e de pessoa, terceira do singular! Neste conjunto de quatro verbos há dois que modalizam o discurso, transmitindo, juntamente com o uso do pretérito perfeito do conjuntivo, a subjectividade do autor. O que, no texto em causa, não me parece inadequado.
Acrescenta-se, todavia, um reparo à frase em análise: preferia que, em vez de "fazerem" golos, os jogadores os marcassem!