«[Portugal é um campeão justo?] Quando chegas a uma final e ganhas, és sempre um campeão com mérito.»
Didier Deschamps, selecionador francês, jornal Record, 11/07/2016
«Portugal no Euro foi uma equipa demasiado resultadista*. Nunca foi brilhante. Em sete jogos, empatou seis nos 90 minutos. É poucochinho, como diria o primeiro-ministro António Costa. "Deus é português e portanto vamos ganhar", escrevia eu anteontem. E assim foi. Deus livrou-nos do grupo dos tubarões e Inspirou Fernando Santos para meter Éder. Vencemos! Os emigrantes em França tiveram a sua vingança.»
José António Saraiva, ibidem
«Portugal foi a melhor equipa do Euro 2016? Jorge Jesus costuma dizer que um jogo (ou uma competição) não se decide pelo voto do júri, mas sim a diferença de golos marcados e sofridos. Numa final, isso ainda é "mais verdade". A nossa seleção não encantou, mas pergunto: alguma se exibiu a um nível muito alto? Respondo: nenhuma! Portugal ganhou e isso faz dela, de forma clara e inequívoca, a melhor equipa de Euro 2016.»
José Ribeiro, ibidem
A propósito da prestação da seleção portuguesa no Campeonato Europeu de futebol, em França, muito se tem falado na imprensa sobre o mérito, o brilho, e até a sorte, que terão concorrido durante os desafios a que foi sujeita a equipa das quinas.
Será, por isso, oportuno observarmos o sentido preciso e a origem etimológica destas três palavras para extrairmos, hipoteticamente, algumas conclusões sobre o seu real significado e emprego.
Mérito, que são as caraterísticas que tornam alguém ou algo digno de apreço, chegou-nos do latim meritu-, «ganho, salário, serviço (bom ou mau, mas quase sempre bom); conduta em relação a; ato que merece, que justifica alguma coisa». Podemos chegar ao verbo merere, «ganhar, merecer, receber, obter»1.
Brilho, «der. regressivo de brilhar, que, por sua vez, vem do italiano brillare, pelo castelhano brillar»1. São muitos os seus significados: «resplandecência», «claridade», «lampejo», «luminosidade», «luz», «fulgor», «clarão», «cintilação».
Sorte, com o significado atual de «destino», «fado», «felicidade», «fortuna», etc., também tem origem no latim: sorte-. Era «cada um dos objetos que se punham na urna para depois tirar à sorte: pedra, tabuinha, lâmina, anel com inscrições; tiragem à sorte; o resultado dessa tiragem; oráculo, profecia»1.
Mérito foi, sem dúvida, aquilo que a seleção nacional obteve: ganhou com merecimento pelo seu bom serviço, cometeu o ato de valor que mereceu o reconhecimento popular e institucional. Não será por acaso que foi agraciada com a Ordem do Mérito pelo Presidente da República.
Quanto ao brilho que lhe negam quantos preferiam um modelo de jogo menos defensivo, está de facto em causa a tal cintilação que elevaria a outro patamar a vitória portuguesa.
Já a sorte, essa centelha que pode fazer a diferença, brincou com todas as equipas em competição, tirando a pedrinha ora para um lado, ora para outro...
* Resultadista é um neologismo recém-entrado no chamado futebolês: que privilegia o resultado (positivo), em detrimento da exibição. De uso corrente também no espanhol, formou-se do substantivo resultado (ato ou efeito de resultar, o que resulta, logo, com resultados/vitórias) acrescido do sufixo - ista (que exprime a ideia de adepto de um determinado sistema).
1 Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Machado, José Pedro, 3.ª ed., Livros Horizonte, Lisboa