Não é possível dar resposta precisa às vossas perguntas, porque plafonar e plafonamento não foram apresentadas inscritas, cada uma delas, numa frase, pelo menos; e não foi explicada a situação em que se emprega cada uma delas. Só assim é possível discordar sobre os valores das palavras e responder completamente. Vamos responder como pudermos.
1. Plafonar e plafonamento são palavras sem qualquer motivação na Língua Portuguesa. Por isso só as percebe quem estiver integrado nas actividades em que elas se empregam ou quem as conhecer em francês. Temos aqui já um motivo para não as aceitarmos.
2. Embora não nos fossem dadas frases, julgamos não errar na seguinte pergunta: Que é plafonar e plafonamento, senão escalonar (melhor que escalar) e escalonamento? Se há números, há escalões. E que são os "plafons" orçamentais, senão os máximos orçamentais? Julgo que não erro, mas como não estou inteiramente dentro do assunto, posso falhar. E se falhei agradeço que mo digam. Estou no mundo para aprender.
Isto de atribuirmos tal ou tal significado a tal ou tal palavra é uma questão de hábito. Basta querermos. Estou-me agora a lembrar do "stress". Quando há umas dezenas de anos Selye, no Canadá, descobriu o que era o "stress", verificou que a língua inglesa não tinha palavra para o significar. Que fez ele? Foi à palavra antiga "stress" e deu-lhe o significado que ela não tinha. Nunca vi nenhum português criticar negativamente Selye por ter dado a "stress" um significado que este vocábulo não tinha, mas contraria-se quem deseja dar a escalonar e a escalonamento o significado das palavras francesas "plafonner" e "plafonnement". Porquê? Não percebo.
Falta-nos um organismo oficial que guie a língua na sua evolução, como tem a França.
3. Vejamos agora as palavras placar, robô, chofer, tablier, cabina, equipa, implementar, constatar.
Será verdade que já entraram definitivamente na Língua Portuguesa? Às vezes são precisas dezenas e dezenas de anos para o sabermos. Estou-me a lembrar de "bluff", palavra que há cem anos viajava de boca em boca e que agora é raro ouvi-la.
Vejamos então as outras palavras uma por uma:
a) Placar (do francês "placard") já se vai vendo substituída por cartaz e edital.
b) Robô (do francês "robot"). Temos duas palavras para a traduzir: autómato e andróide (do elemento grego andro- (homem) + -óide (sufixo de origem grega que traduz a ideia de forma, aparência. Robô, tal como plafonamento e plafonar, não nos «fala» ao entendimento; mas andróide, sim, porque temos bastantes palavras com os elementos que a formam.
c) Chofer(do francês "chauffeur") está a não ser aceite. Pouca gente a diz.
Compreende-se: não nos «fala» ao entendimento, à compreensão. Não é
motivada. Esta palavra não foi aceite.
d) Tablier está a ser substituída por quadro de instrumentos. Está, pois, a não ser aceite.
e) Cabina - Está aceite.
f) Equipa - Está aceite.
g) Implementar - Segundo o "Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa", não provém do inglês, mas sim do português implemento, e este do latim medieval implementu(m), segundo uns; ou do inglês "implement", segundo outros. O mais provável é ter origem no inglês. E até quando permanecerá ela na Língua Portuguesa?
h) Constatar - Sim, esta fixou-se. E até quando permanecerá? Ficará para sempre?
Em presença duma palavra estrangeira, devemos proceder do seguinte modo:
1. Ponhamo-la de parte, se tivermos palavra que a traduza - ou possa traduzir.
2. Se não tivermos, procuremos criá-la.
3. Se não formos capazes, aceitemo-la, mas adaptando-a à nossa língua.
Foi o que os Portugueses fizeram quando dos Descobrimentos: adaptavam o que ouviam ao nosso idioma, e assim temos chá, Samatra, ananás, laranja, zebra, pijama, etc.
Façamos com a Língua Portuguesa o que os pais devem fazer com os filhos: ajudemo-la na sua contínua evolução, para que ela seja sempre ela.
N. E. (10/09/2015) – Sobre o galicismo plafonamento, atente-se no seguinte comentário da autoria do jornalista Pedro Santos Guerreiro, no Expresso Diário de 10 de setembro de 2015, a propósito do uso de dois derivados desta palavra no contexto da campanha para as eleições legislativas de 4 de outubro de 2015 em Portugal:
«[No debate televisivo entre António Costa e Pedro Passos Coelho] (...) quando se quis aprofundar o relevantíssimo tema das pensões, «plafonamento horizontal» para cá, «plafonamento vertical» para lá e ninguém percebeu nada.
(Em três parágrafos. Plafonamento significa criar um limite tanto nos descontos dos trabalhadores para a Segurança Social, como nas pensões que esses trabalhadores irão receber quando se reformarem. Plafond quer dizer, aliás, «teto» em francês.
«Plafonamento horizontal», como defende o PSD para novos trabalhadores, aplica-se apenas a ordenados mais altos, sendo definido um valor de salário a partir do qual os trabalhadores deixam de estar obrigados a descontar para a Segurança Social. Se, por exemplo, o Estado definir o plafond nos 2600 euros e o senhor Joaquim ganhar 3000 euros por mês, pode descontar para a Segurança Social apenas sobre os 2600 euros e optar por poupar a parte relativa aos 400 euros remanescentes em fundos privados. Toda a gente que ganhe até esses 2600 euros desconta integralmente para a Segurança Social. É isto que o PS acusa de ser a privatização da Segurança Social.
«Plafonamento vertical» aplica-se a todos os rendimentos, passando uma parcela dos descontos a ser feito não para o sistema público de pensões mas para fundos privados. Ganhem 3000 ou 600 euros, o trabalhador desconta uma parte para fundos privados. É isso que o PSD acusa o PS de estar a promover encapotadamente, quando propõe uma baixa da taxa contributiva para todos os trabalhadores, encorajando-os a poupar em fundos privados para complementar a pensão futura.)»
[Pedro Santos Guerreiro, "Expresso Diário" de 10 de setembro de 2015, sobre o emprego dos termos «plafonamento horizontal» e «plafonamento vertical», por parte do presidente do PSD e primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, no frente a frente televisivo com o líder do principal partido da oposição, António Costa, realizado no dia 9/08/2015]