«A superação plena desta crise e, em especial, o desafio do desemprego, representa um dos principais retos coletivos dos nossos países».
Diário de Notícias (DN), 8 de julho de 2014, p. 8.
Também na língua há casos em que a lei de Murphy – tudo o que pode correr mal, vai correr mal – se cumpre à risca. Foi o que aconteceu com esta frase de uma notícia alusiva à recente visita dos reis de Espanha a Portugal, em que se transcrevem declarações do monarca espanhol. A frase foi porventura dita em espanhol, língua em que repto é reto. Uma tradução apressada ou descuidada terá feito o resto. Ademais reto, ainda por cima como nome, também existe em português, com o sentido anatómico que se conhece, pelo que nem o corretor ortográfico, nem o corretor sintático ajudaram. E o resultado foi aquele escatológico e muito pouco conveniente: «retos coletivos dos nossos dois países»...
E por crise, a que frase alude, confesso que num primeiro relance cheguei a pensar que o DN, num súbito assomo supressor, havia levado longe demais o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) e eliminado indevidamente o pê de reptos… Indo, como se diz que os portugueses foram da troika, além do AO90...