Para além do cortejo dos seus 37 dias de bombardeamentos insanos, destruição cega e das mortes a eito de civis apanhados no fogo cruzado de beligerantes sem rosto, a guerra da Jugoslávia deixou também as suas marcas linguísticas. Foi a "limpeza étnica", mais os "danos colaterais", a refrega entre os pró-NATO e os pró-OTAN e, até, o famigerado "caos «humanitário»" caído algures em combate. Pois agora nem o verbo haver escapou de uma autêntica emboscada, quando a paz parecia enfim alcançada, ele que já vinha ferido de morte de tantas anteriores campanhas belicistas.
O enviado da RTP à capital do Kosovo foi o inesperado atirador sobre um alvo tão pacífico (é o que se supunha, pelo menos...) para qualquer lusofalante medianamente escolarizado. E (outra suposição errada...) profissionalmente obrigado a distinguir a mais básica das regras da sua especialidade.
Infelizmente, pobre haver, não foi daqueles acidentes fortuitos e isolados que acontecem em situações similares. Foram três tiros, verdadeiros obuses, e logo em directo à hora mais nobre das 20 horas. Um fuzilamento a frio e sem o (aparente) sobressalto até do apresentador do Telejornal [terça-feira, 15/06].
Que «"haviam" ainda sérvios em Pristina»; que «o comandante britânico comunicou que "haveriam" duas fases na retirada do Exército de Milosevic»; que algures «"haviam" mais valas comuns»...
P.S. – «Os senhores "hadem" vir à razão», arengou para a bancada da oposição o ministro português Jorge Coelho, na discussão parlamentar sobre a recusa do PSD e do PP em fazerem passar a autorização legislativa para um sindicato da PSP [quinta-feira, 17.06].
Definitivamente: o verbo haver é uma armadilha a que nem escapa o ministro que zela pela segurança pública em Portugal.