No (bom) jornalismo, entre dois sinónimos – um que a maioria dos leitores conhece e outro que a maioria dos leitores não conhece –, opta-se sempre pelo mais conhecido. Entre dois vocábulos similares – um vocábulo em linguagem portuguesa corrente e um vocábulo culto em língua estrangeira –, só por pedantismo se prefere a fineza do étranger. A escrita narcísica, exibicionista de uma putativa erudição, pode reconciliar muitos egos, mas dificulta a compreensão do texto e reduz o número de leitores.
É o que se passa com o chamado economês, cada vez mais hermético no uso e no abuso de um certo jargão, regra geral em língua inglesa. Apenas três exemplos:
• «Economia tem de resistir à armadilha do "low cost"»1
[A tradução literal de low cost — (serviços de) baixo custo — diz-nos exactamente o mesmo. Só se perde o sotaque inglês ou americano.]
• «Aumentam as vozes que pedem agência de "rating" europeia»2
[Agências de rating = agências de notação financeira. Alguns jornalistas já empregam o termo, mas a pena foge quase sempre para o rating.]
• «O reforço do outlook negativo, da parte da Moody´s, para a banca portuguesa apanhou de surpresa o presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD).»3
[Outlook — Trata-se do conjunto de expectativas previstas para o comportamento da economia num determinado horizonte temporal. Traduzido literalmente, dir-se-ia previsão, perspectiva ou prognóstico para a economia e não se perderia um átomo do significado.]
1 Diário Económico, 8 de Abril de 2010.
2 Diário Económico, 8 de Março de 2010.
3 Jornal i, 28 de Novembro de 2009.