Artigo de Maria Regina Rocha no Diário do Alentejo de 12 de Setembro de 2008, na sua coluna A Vez… ao Português, sobre "a triste subserviência de responsáveis portugueses à língua inglesa".
Num dos passados domingos, na RTP1, ao serão, foi transmitida uma comédia americana produzida em 1996, Corações Roubados (título original: Two if by the sea), que começa com o roubo de um quadro do pintor francês Henri Matisse (1869-1954). Num diálogo entre dois dos investigadores do roubo, um deles refere-se ao pintor pronunciando o nome próprio à francesa. Ou outro corrige-o, pretendendo que ele diga o nome em inglês (Henry, e não Henri), e, à observação do companheiro de que o pintor era francês, o primeiro responde-lhe: "Mas tu és americano, falas inglês!"
Este simples diálogo entre personagens de um filme menor americano, em que simples figurantes sem qualquer responsabilidade a nível político ou cultural defendem a língua do seu país, fez-me pensar no que se passa em Portugal: a triste subserviência de responsáveis portugueses à língua inglesa em situações que têm projecção nacional ou internacional e o desamor pela língua portuguesa.
Alguns exemplos: Allgarve (porque não Algarve?), Eusébio Cup (porque não Taça Eusébio, em homenagem a Eusébio, o grande jogador a quem chamaram o "Rei" do futebol, palavra agora por vezes substituída por King!?), Troiaresort (empreendimento turístico recentemente inaugurado), RTP Mobile, ou, ainda, o termo chief executive officers (CEO) nome dado, num jornal, a jornalistas da direcção de um canal de televisão.
Um dos domínios da técnica em que os anglicismos são usados de uma forma perfeitamente acrítica é o da informática. Não esqueço que, ao importarmos um aparelho ou um produto novo de origem inglesa ou americana, recebemos também o nome "de bónus" e que, num primeiro momento, poderá ser difícil encontrar ou formar a palavra portuguesa correspondente, mas será, certamente, exagero dizer, por exemplo, password em vez de senha (palavra portuguesa, e até mais pequena), online, em vez de em linha, home page (página inicial ou principal), software (a que correspondem os termos portugueses aplicações ou programas, dependendo do contexto).
Para terminar e parar por aqui, todos sabem que no sinal de trânsito de paragem obrigatória em Portugal está escrita a palavra STOP. Mas... saberão que no Brasil a palavra escrita nesse mesmo sinal é PARE? Sem comentários...
in Diário do Alentejo de 12 de Setembro de 2008