O jurista português Pedro Santana Lopes, reputado orador nos congressos do PSD, detesta o verbo «haver». Nos «Donos da Bola», nos telejornais, seja onde for, não o poupa. A última manifestação de ódio ao infeliz verbo foi na estação de TV privada SIC, no «Jornal da Noite» de 8 de Fevereiro, quando o supliciou com um «apesar de não haverem desafios...». É um «ódio de estimação». O dr. Santana Lopes sabe muito bem que o verbo haver só se conjuga no plural quando substitui, como auxiliar, o verbo ter. Por exemplo: «Havia laranjas no pomar, antes de elas haverem sido comidas pelo Pedro.»
O deputado Paulo Portas não é tão consequente no amor quanto o dr. Santana Lopes o é no ódio. O dr. Lopes detesta o verbo haver e, por isso, conjuga-o mal. O dr. Portas ama a Pátria, mas a pátria dele não parece ser a Língua Portuguesa. Se o fosse, não pronunciaria «ecspò» à alemã - como fez no «Jornal da Noite», também de 8 de Fevereiro, para designar a Expo 98. Esperamos que o dr. Portas tenha apreciado no dia seguinte, no jornal da SIC, uma reportagem na Vidigueira (Baixo Alentejo). Verificaria que os habitantes pronunciam Expo à portuguesa: «êispu» (a última sílaba como a última sílaba de livro, disco, milho).
Perdoe-se-nos a insistência na causa perdida da Expo 98 (aludimos, é evidente, à pronúncia), mas não podíamos perder a ocasião de apoiar a coerência patriótica do dr. Paulo Portas.