Por esta altura, em Portugal, a RTP transmite o Festival da Canção, onde se procura eleger a música que representará Portugal na Eurovisão 2024, em Malmö, no mês de maio.
Este ano, como em anos anteriores, há propostas em português e em inglês. Contudo, a diversidade linguística apresentada pelos participantes não se restringe a estas duas línguas, muito por força de muitos participantes provirem ou terem relação próxima com países de língua oficial portuguesa. Vejamos...
Maria João, icónica cantora de jazz, portuguesa, apresentou uma música – Dia – em português, inglês e em changana, língua banta dos Changanas, falada em Moçambique, sobretudo nas províncias de Gaza, Inhambane e Maputo. Vale destacar que a mãe da cantora é moçambicana.
Por outro lado temos Huca, nascido e criado em Moçambique, apresentou a sua Pé de choro, «uma carta de amor, uma celebração a Sara Tavares» (Notícias ao Minuto), cantada essencialmente em português, mas com uma pequena passagem em crioulo cabo-verdiano, «mi ma bô» («tu e eu»), nome também do segundo álbum da cantora homenageada, recentemente falecida e que tinha origens em Cabo Verde.
Também a intérprete Cristina Clara traz para a sua música, portuguesa na sua essência, o mesmo crioulo, numa variante de S. Vicente, o conhecido sampadjudo. Note-se que a sua Primavera foi composta por Jon Luz, cabo-verdiano criado em S. Vicente.
Destaque ainda para Leo Middea, artista do Rio de Janeiro, que interpretou Doce mistério, e claro, fê-lo em português do Brasil.
Relativamente às canções apresentadas em inglês (três, na totalidade), é curioso destacar que You can’t hide é interpretada por Filipa, sul-africana que tem a particularidade de ser filha de pais portugueses. Apesar de se expressar em inglês, esta cantora assume entender bem a língua portuguesa.
Em suma, o Festival da Canção de 2024 não reflete apenas a diversidade cultural e musical do país, mas também estende os seus braços para abraçar as raízes e influências de outras nações de língua portuguesa. De Moçambique até ao Brasil, cada música conta uma história que funde fronteiras linguísticas e culturais.
Cf. A importância do jazz na luta por direitos civis nos EUA