DÚVIDAS

Virtualidade

Desculpe voltar a acender a questão da virtualidade. Apesar de sempre ter ligado a palavra virtuosidade a «virtuoso, o que tem virtudes», essa sua definição também me parece correcta, pelo que fiquei bastante confuso, e apesar de pesquisar pela Internet já há pouco mais de meia hora, não chego a nenhuma conclusão... Como poderei então designar a qualidade de quem tem virtudes?

Obrigado pela sua atenção.

Resposta

Virtuosidade

A qualidade de virtuoso em dicionários mais antigos vem designada por virtuosidade, de facto. No entanto, a definição de virtuoso é a de quem possui ou nutre sentimentos de virtude, é casto, honesto, valoroso, eficaz.

Não era essa a minha ideia na observação que fiz sobre a língua, mas frisar as suas potencialidades.

Por outro lado, como pode verificar, os modernos dicionários dão a virtuosidade o sentido de virtuosismo, qualidade de virtuoso, de quem tem grande talento de execução.

O problema que aqui se levanta não é propriamente de haver erro grosseiro semântico na troca indevida de virtualidade (com o sentido de potencialidade) por virtuosidade. A virtuosismo de um artista é uma potencialidade que ele tem. O erro está na deficiente propriedade de aplicação da palavra.

Por exemplo, podemos dizer *«o chefe da banda», *«o chefe da orquestra sinfónica», e toda a gente nos entende; mas, com propriedade, o que devemos dizer é «o mestre da banda», o «maestro da orquestra sinfónica», e, nestas combinatórias, não é "próprio" fazer transferências (ex.: trocar maestro por mestre).

A propriedade no uso das palavras é uma das qualidades da língua; questão muito importante, frequentemente descurada.

Só se consegue dominar bem esta qualidade com muita leitura. Quando as palavras entraram em abundância nas nossas ligações cerebrais (e afluem em catadupa quando, por exemplo, lemos um livro) elas ficam por lá nos recônditos da memória, e depois, quando falamos ou escrevemos, sentimos que umas ficam melhores que outras para exprimir a nossa ideia.

Ora na abundância de palavras desta “Flor do Lácio” há a virtualidade de podermos escolher sempre a composição mais coesa, mais harmoniosa, mais de acordo com a forma com que as palavras se “casaram” com o tempo. Uma união não de facto, nem de direito, mas duma preciosa herança que vamos recebendo e faz o nosso encantamento.

Diferenças neste texto para o novo acordo:

Termos para Portugal: Sem alteração

Para o Brasil: ideia, frequentemente

NOTA: as duplas grafias não implicam alterações obrigatórias na escrita.

Ao seu dispor,

ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de LisboaISCTE-Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa