Tem muita razão nas dúvidas que apresenta. Nas obras de pontuação por mim consultadas, quer portuguesas quer estrangeiras, não encontrei o emprego da vírgula a seguir a ponto de exclamação e de interrogação. E compreende-se, porque, muitas vezes, é uma questão de efeito estilístico. Mas há uma explicação que me parece aceitável. Vejamos as frases:
- Ai!, até admira!...
- Ah!, suba, Sebastião, suba! Quer subir?
- Luísa, Luísa!, o que queres tu fazer? Não podemos romper assim! Escuta...
Todos sabemos que uma das funções da vírgula é separar as orações. As exclamações têm geralmente o valor duma oração – digo valor, não digo constituição.
Aquele «Ai!» tem um valor significativo tão intenso e tão vasto (não sabemos qual), que leva a pessoa a dizer: até admira!... Esse valor significativo só nos poderá ser transmitido por meio duma oração, pelo menos.
Mais ainda: se suprimirmos o ponto de exclamação, poderemos ter um ai que não seja verdadeiramente uma exclamação, mas a vírgula permanecerá. Como se compreende então que, pondo o ponto de exclamação, teremos de suprimir a vírgula? Como se o ponto de exclamação fizesse também as vezes da vírgula? Isso não poderia ser.
Temos explicação semelhante para a frase 2..
Vejamos agora a frase 3.. Em Luísa, Luísa!, temos uma exclamação (e cá está também a minha vírgula indispensável). Mas este elemento Luísa, Luísa!, que só termina no ponto de exclamação, desempenha a função sintáctica de vocativo. E todos nós sabemos que o vocativo, quando inicia uma frase, tem de ser assinalado com uma vírgula. Eis a razão da vírgula depois do ponto de exclamação.
Como sinal de separação, além da vírgula, temos o travessão. Vejamos esta frase:
- Que linda paisagem! – disse o João, quando chegou ao cimo do monte.
Aqui, todos compreendemos que este sinal de separação (o travessão) não se deve suprimir. Como não havemos de compreender que também não devemos suprimir a vírgula, sinal de separação, em frases como a 1., 2. e 3.? A explicação é idêntica para as frases da alínea 2.. Vejamos agora as frases da alínea 3.:
- Ah! sim? Cuidei que o tempo parara aqui.
- Ah! já sei, e a D. Teresinha Albuquerque.
Na frase 5., aquelas duas palavras «Ah! sim?» encontram-se intimamente ou, pelo menos, quase intimamente ligadas. Por isso, pronunciamo-las, geralmente, numa só emissão de voz, o que não acontece na frase 1.. Não separemos com vírgula as palavras que se encontram intimamente ligadas.
Depois do ponto de interrogação, não ficaria bem uma vírgula, porque é natural a separação, quando pronunciamos. Tanto isto é verdade, que o que se segue começa por letra maiúscula: Cuidei que... Isto é, estamos em presença de duas frases – de duas frases, porque aquele «Ah! sim?» funciona como uma frase. Veja-se também o que se disse acerca da frase 1..
A frase 6. tem apenas uma vírgula, porque em sei termina uma oração. Aquele Ah! está intimamente ligado a já sei. Por isso mesmo, pronunciamos aquelas três palavras numa só emissão de voz.
Se alguma dúvida permanecer, o Ciberdúvidas está à disposição do prezado consulente.