Apareceu na agência portuguesa de notícias Lusa um trabalho muito bom — do jornalista Raul Malaquias Marques — que transcrevo abaixo, com pequena ressalva:
«Lisboa, 17 Set (Lusa) — É, provavelmente, a par do de World Trade Center, o nome mais vezes citado pelos "media" desde os atentados de terça-feira nos Estados Unidos — e é, provavelmente, também, o nome mais arbitrariamente grafado: Oussama, Hossama, Ousama, Osama, Usmah, Usama?
Objecto da dúvida, o nome do milionário saudita que é hoje o inimigo principal dos Estados Unidos, o suspeito primeiro dos atentados.
A grafia das duas últimas componentes do nome não oferece dúvidas por aí além. Algumas, apenas. Em rigor, como escrever: "bin Laden" ou "ben Laden"?
Uma ou outra das grafias são válidas — mas "bin" é, no parecer da embaixada saudita em Lisboa e de um arabista português ouvido pela agência Lusa, "mais correcto". Bin, a significar "filho de". Em qualquer dos casos, se e quando se escreva o nome completo do saudita, o "b" terá de ser sempre minúsculo.
O centro do problema está no nome próprio. Tem-se escrito, indiferenciadamente, Oussama, Hossama, Ousama, Osama, Usama. A Lusa, recentemente, passou a grafar Usmah. Bem ou mal? "O mais correcto poderia, de facto, ser Usmah, mas... é uma transcrição", observou à Lusa o arabista Dias Farinha, do departamento de História da Universidade Clássica de Lisboa.
Em definitivo, Oussama, Osama ou Ousama, não — pela singela razão de que "o 'o' em árabe não existe". Quanto à dupla "bin-ben", Dias Farinha opta por "bin" e insiste: "O 'b' sempre escrito com minúscula", salvo quando o nome apareça escrito sem o Usama inicial. Usama bin Laden é, portanto, a grafia recomendada pelo arabista.
Inquirido também sobre esta questão, o linguista José Pedro Machado introduz algumas dúvidas adicionais, a primeira das quais resultante de não poder ter acesso à grafia original, árabe, do nome. "É um problema", confessou. E explicou porquê: "O nome (como em Portugal aparece nos "media") é transcrito do inglês, não do árabe". Por este motivo se escusou a optar por qualquer das correntes grafias do primeiro nome do milionário saudita.
O que a Pedro Machado soou estranho foi o nome "Laden", que "não é árabe". Daí, explicou, a ausência de um artigo entre "bin" e "Laden". "Eles (os árabes) não usam artigo com palavras estrangeiras". E quanto a "bin" ou "ben"? As duas são válidas, as duas devem ser escritas com letra minúscula. Uma e outra palavras significam "filho". "Bin", esclareceu o linguista, é uma espécie de corruptela de "ibn", e "ben" uma "forma popular".
Em conclusão (para Pedro Machado): (...) bin Laden.
A partir de hoje, a agência Lusa passará a escrever: "Usama bin Laden".»
Discordo da grafia do primeiro nome. O s intervocálico em português pronuncia-se como z. Portanto, Ussama.