Embora o conjunto de perguntas apresentadas pelo consulente seja maior do que aquilo que apresentei no cabeçalho, todas elas se resumem praticamente a duas questões que tentarei esclarecer.
Em primeiro lugar, tem o consulente razão relativamente à não tradução dos nomes próprios para Português: é realmente uma norma a que só não obedecem os nomes gregos e latinos, pelo simples motivo de que todos eles terão entrado no Português por intermédio do Latim, logo obedecendo às regras da evolução do Latim para o Português. Esta norma tem-se aplicado também, nos últimos tempos, aos nomes de cidades, que ainda há alguns anos eram traduzidos e agora se mantêm no original. Nesse aspecto o exemplo de que me recordo sempre é o de Frankfurt, como vemos usualmente, mas que nos romances da minha infância aparecia com a forma Francoforte, felizmente caída em desuso. Quando os nomes próprios provêm de um alfabeto distinto do nosso deve recorrer-se à transliteração. Esta faz-se por transcrição fonética e obedece a certas regras.
Não conhecendo as regras a que obedecem as transcrições fonéticas dos outros alfabetos cingir-me-ei ao Grego. E desde já noto que o que aqui digo se refere sobretudo ao Grego clássico. Dadas as diferenças fonéticas que se deram na evolução para o demótico não garanto que todas elas se lhe apliquem.
A transliteração faz-se fonema a fonema, fazendo corresponder os sons da língua aos do nosso alfabeto de 26 letras, ou seja, incluindo o 'k', o 'w' e o 'y'. O 'k' serve para reproduzir o som do 'k' grego, dado que tem o valor de gutural (o nosso 'c' nem sempre tem o mesmo valor, como sabemos), o 'y' serve para reproduzir o ípsilon grego, que tinha o som de 'ü' (como o 'u' francês). Além disso, há três consoantes aspiradas: o thêta – um 't' aspirado que se translitera por 'th', o fi – um 'p' aspirado, transliterado por 'ph' e o khi, transliterado por 'ch' dado que o seu som é o de um 'c'/'k' aspirado. Além das consoantes temos as sete vogais do Grego e os ditongos formados a partir delas. Basicamente o alfa corresponde ao nosso 'a', o épsilon ao 'e', o iota ao 'i', o ómicron ao 'o' e o ípsilon, como já disse, ao 'y'. Restam-nos o êta, que é transliterado por 'ê' e o ómega, transliterado por 'ô', dado que eram vogais fechadas.
Claro está que isto não é uma tabela, como o consulente sugeria, mas apenas uma exemplificação muito geral. Não só não conheço nenhuma tabela para transliteração do Grego (as regras são-nos explicadas eventualmente durante a licenciatura), como não tenho a certeza de que o interesse do consulente seja o Grego clássico. No entanto, mais uma vez devo dizer que o consulente tem razão, quando supõe que a transliteração de um nome é diferente para as diversas línguas – precisamente por ser feita por transcrição fonética.