Em primeiro lugar, importa referir que enferma de erro o Dicionário da Língua Portuguesa referido pelo consulente. De facto, na obra e no trecho indicados (De oratore 3, 215), Cícero não escreveu vincit omnia veritas («a verdade supera tudo») mas in omni re vincit imitationem veritas («a verdade supera o fingimento em qualquer circunstância»).
No entanto, a frase citada pelo consulente era um ditado muito frequente em latim, que corria nas seguintes variantes:
Veritas omnia vincit («A verdade tudo supera»)
Vincit omnia veritas («Supera tudo a verdade»)
Omnia vincit veritas («Tudo supera a verdade»)
A segunda variante foi adotada como mote pela Augusta State University (Jórgia, Estados Unidos), que em 2012 se fundiu com a Georgia Regents University.
A propósito da terceira variante, refira-se a ambiguidade da versão portuguesa apresentada, pois só o contexto poderá indicar se a verdade supera tudo ou é superada por tudo, ao passo que o original latino é perfeitamente claro, já que o substantivo veritas, por se encontrar no caso nominativo, funciona inequivocamente como sujeito da proposição.
São também perfeitamente possíveis e integralmente corretas as seguintes variantes, apesar de não as ter encontrado dicionarizadas:
Veritas vincit omnia («A verdade supera tudo»).
Vincit veritas omnia («Supera a verdade tudo»).
Omnia veritas vincit («Tudo a verdade supera»).
As traduções portuguesas apresentadas respeitam a ordem dos vocábulos do original, pelo que poderão, em certos casos, parecer algo arrevesadas. Na verdade, o facto de os vocábulos latinos apresentarem formas diferentes consoante a função sintática que desempenham, ao contrário do que sucede em português (exceto no caso dos pronomes pessoais), torna a língua de Cícero extremamente flexível e moldável.
Apesar de as variantes referidas apresentarem todas elas a mesma ideia fundamental, não é indiferente a forma como ordenamos as palavras no seio da frase. Por exemplo, quando dizemos veritas omnia vincit, realçamos a verdade como agente de superação; quando enunciamos vincit omnia veritas, destacamos a sua capacidade de superação; quando exprimimos omnia vincit veritas, sublinhamos a pluralidade de obstáculos superados.
Quanto ao amor, encontramos um pensamento semelhante saído da pena de Virgílio (Écloga X, 69): Omnia vincit amor. Embora Virgílio tenha escrito assim, poderíamos considerar, à semelhança do caso anterior, as seguintes seis variantes, todas elas plausíveis e corretas:
Amor vincit omnia («O amor supera tudo»).
Amor omnia vincit («O amor tudo supera»).
Omnia vincit amor («Tudo supera o amor»).
Omnia amor vincit («Tudo o amor supera»).
Vincit amor omnia («Supera o amor tudo»).
Vincit omnia amor («Supera tudo o amor»).
Em relação a estas variantes, são obviamente válidas todas as considerações tecidas anteriormente.
Para terminar, e porque estamos em maré de verdade, refira-se a importância que este conceito assumia entre os romanos, a julgar pela profusão, neste Dicionário de Expressões e Frases Latinas, de ditados em que entra o termo veritas. E nem sequer estão lá todos, a bem da verdade...