Estamos em presença duma metáfora em tinta da treva sobre a noite.
A metáfora tem sido assunto de estudo e apreciação ao longo dos séculos.
Harry Shaw diz o seguinte no seu «Dicionário de Termos Literários», Publicações D. Quixote, em tradução e adaptação de Cardigo dos Reis:
«Figura de retórica pela qual, em referência a uma pessoa, uma ideia ou um objecto, se emprega uma palavra ou uma frase que não lhe é literalmente aplicável. A metáfora é uma analogia implícita que, por um processo imaginativo, identifica uma coisa com outra. A metáfora (…) é um artifício mediante o qual um escritor altera ou torce o sentido duma palavra. Por exemplo, Martinho Lutero escreveu: 'O nosso Deus é uma poderosa fortaleza / Um baluarte que não cede nunca'; poderosa fortaleza e baluarte são metáforas.»
Aqui, identifica-se a tinta da treva com a escuridão da noite.
Há também metáforas nos versos seguintes:
1. - Enquanto apacentar o largo Pólo
As estrelas, e o Sol der lume ao Mundo,
Onde quer que eu viver, com fama e glória
Vivirão teus louvores em memória.
Os Lusíadas, II, 105
2. - Na minha dor quebram-se espadas de ânsia,
Gomos de luz em treva se misturam.
As sombras que eu dimano não perduram,
Como Ontem, para mim, Hoje é distância.
Mário de Sá-Carneiro (Estátua Falsa)
3. - Ah, meu povo traído,
Mansa colmeia
A que ninguém colhe o mel!
(Miguel Torga)
Julgo que as metáforas aqui não precisam de explicação. Estão claras.